Tomar decisões é o que diferencia os seres humanos dos animais irracionais. Dizer que o homem é racional não significa dizer que suas decisões sejam corretas ou sequer que façam sentido, mas apenas dizer que há uma escolha. Que não se trata de uma ação puramente instintiva, como a de um cachorro diante de um prato de comida.

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A nossa sociedade, contudo, parece procurar reduzir seres humanos a animais irracionais. Os jovens são proibidos de trabalhar e não são punidos quando roubam; as prateleiras dos supermercados estão repletas de produtos dietéticos que poderiam, supostamente, ser devorados no atacado sem que o glutão engorde; o sexo, graças à camisinha e à pílula, não traria consequências mais duradouras que o prazer que dá; a poupança para dias de vacas magras é feita automaticamente no FGTS...

Esses são apenas algumas das decisões que, cada vez mais, nos são negadas. O resultado é tristemente previsível para quem se dedique a estudar a natureza humana: a anomia, a ausência de lei. Leis nós temos, e muitas, mas não há uma ordem social coerente em que elas se insiram. Essa ordem viria das decisões pensadas de cada pessoa, dos planejamentos individuais a médio e longo prazo.

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Quando se é treinado para não decidir, contudo, é difícil que isso ocorra. Não é, aliás, de se estranhar que o uso de crack esteja virando epidemia: é uma droga tão viciante quanto prazerosa, que demanda força de vontade para parar de usar e cujo uso não é, na prática, punido por lei. O Estado não proíbe o uso, e o usuário não tem força de vontade para fazê-lo.

Mas isso não para por aí.

Os casais se juntam esperando que o outro seja fonte de um êxtase crônico, e se separam sem piscar assim que percebem que a lua de mel não dura para sempre. Os ofícios que demandem perseverança e trabalho árduo não encontram candidatos, o que faz com que na roça dificilmente se veja alguém que não tenha a cabeça branca trabalhando. A universidade virou uma piada, uma máquina de entregar diplomas a quem nunca soube o que é estudar.

Para o Brasil, essas são péssimas notícias. Estamos criando uma população que não pensa a longo prazo, que não assume responsabilidades, que não toma decisões, que não constitui família, não constrói um país. Estamos transformando um povo de empreendedores imaginativos numa multidão apática, interessada apenas em comer, fazer sexo e dormir, como um gato ou cachorro. Gente que não quer ser gente, gente que foi transformada em bicho. Mas pode piorar: vem aí a Lei da Palmada...

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