A situação da República está insustentável. Não há mais governo, e a cada dia que passa aumenta a dificuldade de uma recuperação eficaz. Por um lado, isso é algo que se insere perfeitamente no momento histórico: venho há anos avisando que isso aconteceria. As opções, nestas décadas finais da estranha e artificialíssima construção moderna que é o Estado nacional, sempre foram apenas duas.

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Por inércia e falta de estadistas, o Brasil parece estar mergulhando direta e desordenadamente na etapa final, que é a progressiva irrelevância do Estado. A economia, como todos os demais aspectos da vida das pessoas, tende a tornar-se cada vez mais informal; toda formalidade legal sem mecanismos automáticos e eficientes de exigência tende a cair em desuso. Em menos de 20 anos, por exemplo, será raridade o pequeno negócio que tenha CNPJ. Enquanto isso, a legislação e a teoria da ação do Estado tentarão cada vez mais microgerenciar tudo, sem conseguir todavia sequer pagar o próprio funcionalismo. Foi o que ocorreu no fim do Império Romano, quando o funcionalismo público de sonho dourado passou a problema e, finalmente, a modo de punição. É provável que ainda vejamos pessoas sendo condenadas a trabalhar como fiscais da Receita, como ocorreu em Roma, e extremamente improvável que um funcionário público hoje ativo chegue ao fim da vida recebendo aposentadoria.

A economia, como todos os demais aspectos da vida das pessoas, tende a tornar-se cada vez mais informal

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A outra opção seria realizar este mesmo processo de maneira organizada e controlada, devolvendo ao povo suas responsabilidades e autonomias de forma gradual. Isto, todavia, demandaria algo – ou, antes, alguém – que felizmente está em falta no atual momento histórico: um autocrata com senso histórico e apoio militar, que pudesse passar por cima dos interesses tacanhos dos detentores de fatias de poder político e econômico.

Na Espanha do século passado, o “Generalíssimo” Francisco Franco assumiu o governo após vencer horrenda guerra intestina em que espanhóis chacinaram espanhóis com auxílio de nazistas, comunistas e idealistas estrangeiros. O Tesouro nacional fora roubado e enviado para a Rússia pelos comunistas. O país estava dilacerado e marcado pelo confronto recente. Franco, ditador absoluto, calou pela força qualquer voz de oposição e dedicou-se por décadas a reconstruir todo o cenário político e administrativo espanhol. Manteve a Espanha fora da Segunda Guerra, dedicando-se aos assuntos internos mais prementes, educou o herdeiro da Coroa espanhola e, quase 40 anos após sua ascensão ao poder, devolveu ao povo um país democrático, monárquico e pacífico.

Muito sangue, contudo, foi derramado para que isso acontecesse, e o momento histórico era outro. Talvez a ausência de estadistas no Brasil de hoje seja na verdade uma bênção.