Há cenas que, pela sua conformidade à natureza humana, acabam sendo completamente universais. A mãe com o bebê no colo, a reunião alegre de uma família, os irmãozinhos que brincam juntos, tudo isso é tão humano que não pode deixar de acontecer.

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Há, todavia, quem tente eliminar o que é humano, quem tente criar uma ou outra falsa realidade, como se a natureza humana pudesse ser mudada, não apenas sufocada. É o caso, por exemplo, da horrenda política antinatalista da China comunista, onde o governo só permite que se tenha um único filho. O segundo, quando chega a ser concebido, é morto.

Imagine a alegria de uma família que escapa de lá! Foi o que tive a oportunidade de ver outro dia. Na porta da pastelaria, conversando lá na língua deles, um jovem casal com seus filhinhos – três crianças e um bebê de colo –, um outro rapaz com aquela pinta universal de cunhado que conta a piada do pavê (deve haver uma versão chinesa dela) e uma senhora, evidentemente avó das crianças. A língua deles me é totalmente estranha; as roupas e penteados também fogem do que chamaríamos de bom gosto. Aquela alegre reunião, contudo, já quase na hora de fechar as portas do negócio, era exatamente igual à de qualquer outra família feliz: risadas, mimos e broncas para as crianças, a esposa sorrindo para o marido, que estufava o peito e contava alguma lorota enquanto o cunhado fazia gracinhas para divertir a petizada...

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Esta gente corajosa saiu do outro lado do mundo, fugindo de uma ditadura assassina, dizem até que deixando algum familiar para trás como refém para garantir que mandem dinheiro. Atravessaram o mundo inteiro e vieram para uma cidadezinha no interior do Brasil, cuja cultura lhes era absolutamente desconhecida, vendendo uma comida – muito boa! – que aprenderam a fazer por aqui, trabalhando duro desde cedinho até de noite. Gente forte, gente corajosa. Gente bem vinda, que em uma ou duas gerações estará plenamente inserida na nossa cultura.

Aquelas criancinhas que eu vi correndo em torno dos pais vão crescer falando português sem sotaque, e vão acabar se casando com descendentes de outros corajosos, vindos da Itália, de Portugal, da Bolívia, da África, do Haiti. As famílias que constituirão serão exatamente tão belas, tão universais e tão humanas quanto esta família feliz em que estão sendo criados, que pôde escapar da morte e da desumanidade e, num fim de tarde, reunir-se na porta da pastelaria deles para gozar da alegria bruta de ser família, de estar no Brasil.

Sejam bem vindos!