O Evangelho de hoje nos apresenta as parábolas do tesouro e da pérola: alguém descobre um tesouro e vende tudo para comprá-lo. Quem descobriu um tesouro, ou identificou uma pérola de grande valor, não pode hesitar, ficar perplexo ou ter dúvidas. Se titubear, perde um tempo precioso, e a oportunidade favorável pode lhe escapar definitivamente. Quem tem certeza de ter descoberto algum objeto muito precioso, está disposto a qualquer sacrifício para tomar posse do mesmo.
Tentemos imaginar o que podem pensar os que veem um vizinho seu vendendo a casa, as lavouras, as panelas da cozinha, talvez até as roupas, para comprar um terreno que, aparentemente, é igual a todos os outros. Com certeza cochicham: deve estar faltando algum parafuso ao nosso amigo.
Jesus ensina: quem descobriu o Reino de Deus, encontrou um tesouro. Se estiver realmente convencido, deve estar preparado para qualquer renúncia para não perdê-lo. Para os vizinhos, que nada sabem do seu tesouro, poderá até dar a impressão de ter perdido o juízo. Ele, porém, está muito consciente da escolha que está fazendo: sabe que se trata de negócio decisivo para a sua vida.
O que pensam, por exemplo, as pessoas que observam um comerciante que, de repente, renuncia aos ganhos ilícitos que obtinha antes? O que acham os estudantes quando observam um colega que muda por completo seu modo de vida, que não mais gasta seu tempo em festas, em aventuras com garotas e se esforça, não para galgar posições, para obter vantagens extraordinárias, mas para estar em condições de ajudar os mais pobres? O que pensam num vilarejo de alguém que antes estava sempre bêbado ofendia a todos, descuidava dos filhos, e que agora renuncia à bebida, ao fumo, às festas? As amigas que estavam acostumadas a visitar na ausência dos maridos, evidentemente veem, que ele agora dedica seu tempo e seu dinheiro à família e à comunidade? Talvez pensem e digam: se estas pessoas tiveram a determinação para renunciar a tais coisas, com muito sacrifício, por certo descobriram algo muito precioso!
É claro que os que não descobriram a Cristo, os descrentes, os pagãos, os ateus, podem até pensar que os cristãos sejam um tanto desmiolados. Não conseguem entender o motivo de algumas renúncias (divórcio, magias, bruxarias, vida pecaminosa) não entendem que para entrar no Reino de Deus é preciso ter a disposição de vender tudo e até para perder a própria vida.
Façamos para nós mesmos estas perguntas: desde que descobrimos Cristo, o que mudou na nossa vida, no nosso modo de pensar, de falar, no nosso relacionamento com os outros? Que renúncias tivemos que fazer? Vamos verificar: quanto tempo dedicamos ao serviço da comunidade, às leituras sérias, a acompanhar as partidas de futebol, às distrações, à televisão, à oração, ao dinheiro, aos bate-papos com os amigos? Será muito fácil constatar que como disse Jesus onde está o nosso tesouro, aí está também o nosso coração.
Como é possível que haja cristãos que abandonam a sua fé por um pouco de dinheiro, para conseguir uma posição elevada: é somente por fraqueza ou ainda não se deram conta do risco de perderem um tesouro tão grande? Para nós o tesouro é o Reino de Deus. Quem o descobre fica repleto de alegria e está disposto a mudar por completo a própria vida para poder conquistá-lo.
Dom Moacyr José Vitti, arcebispo metropolitano de Curitiba.