O Evangelho de hoje começa narrando a iniciativa de Jesus, chamando os Doze Apóstolos e enviando-os para uma missão. Especifica-se que todos os apóstolos foram enviados, sem excluir ninguém. Isto quer dizer que a pregação do Evangelho não é uma tarefa reservada para alguns membros da comunidade. Todos os discípulos devem sentir a urgência de compartilhar com os outros os dons recebidos. Diz-se ainda que os apóstolos são enviados dois a dois, não cada um por conta própria. Os cristãos não praticam sozinhos a própria religião, não se relacionam pessoal e diretamente com Deus, são chamados a viver a própria fé em comunidade.
Ora, para formar uma comunidade é preciso contar pelo menos com dois. Eis o motivo pelo qual a evangelização não pode ser propagada por conta própria, seguindo as próprias inspirações., as próprias iniciativas pessoais. Quem anuncia o Evangelho deve estar em sintonia com os irmãos da sua comunidade. Aos apóstolos é conferida uma autoridade. Pode causar surpresa o fato que Jesus não lhes comunique o poder de comandar, de dar ordens, de emanar normas coercitivas. O único poder que recebem é o mesmo exercido por Jesus: o ter o domínio sobre os "espíritos imundos". " Espíritos imundos" são todas as forças do mal, as forças que provocam doenças, que suscitam maus sentimentos, que originam opressões, violências, injustiças. Jesus também indica quais são os equipamentos que os apóstolos devem levar: uma só túnica para vestir, um só par de sandálias, um cajado e nada mais.
Há quem pense que, se Jesus vivesse em nossos dias, não seria tão rígido e se adaptaria um pouco às exigências da vida moderna. Naquele tempo, Ele não tinha aonde reclinar a cabeça, mas hoje optaria por morar em grandes palácios, junto com os seus discípulos, escolhidos, evidentemente entre os que têm algum curso superior. Mas, principalmente, disporia de muito dinheiro para combater os filhos das trevas com as mesmas armas. Ensina-nos o Evangelho de hoje que esta maneira de pensar é uma loucura. Os tempos mudaram, é verdade, as palavras de Jesus não devem ser tomadas ao pé da letra; entretanto as mesmas revelam a sua profunda preocupação em eliminar das mentes dos seus discípulos a ideia de que a eficácia da missão dependa da abundância dos recursos materiais.
A riqueza, a confiança no dinheiro representa um perigo muito sério para a Igreja. Até mesmo a simples aparência do apego ao dinheiro e aos privilégios econômicos sempre produz resultados desastrosos para a causa do Reino de Deus. Jesus não despreza os bens deste mundo, não apresenta a miséria como um ideal de vida, mas alerta para o perigo de nos deixarmos condicionar pela posse dos bens materiais. O desapego a tudo não implica somente a renúncia a uma carga pesada de bens materiais, mas o abandono de preconceitos, de tradições, de ideias retrógadas, às quais muitas vezes estamos amarrados de uma forma emocional e irracional.
Dom Moacyr José Vitti CSS é arcebispo metropolitano.
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