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Quando terá um mundo no qual haverá pão para todos? Se considerarmos as imensas necessidades dos homens de nossos dias, também nós seremos levados a reagir como os apóstolos: o alimento é pouco ( cinco pães de cevada), a multidão é grande (5 mil homens) como servir isto diante de tantas pessoas?", "o que são cinco pães para tanta gente"? Às vezes nós também tenhamos pensado que as condições dramáticas nas quais vivem tantos milhões de seres humanos dependem da vontade de Deus ou são conseqüência de uma criação não perfeitamente bem-sucedida; nesse caso só restaria esperar do céu uma solução milagrosa para os nossos problemas. Diante da fome do mundo, nós também podemos sentir a tentação do desânimo ou então perguntar, como fez Felipe para Jesus: "Onde comprar pão para que tanta gente possa comer".

No Evangelho de Lucas encontramos a seguinte proposta dos Doze: " Despede as turbas, para que vão pelas aldeias e sítios da vizinhança e procurem alimento e hospedagem" (Lc 9,12). Em palavras mais simples: que cada um se vire! Não é essa a solução de Jesus para o problema da fome. O egoísmo, a preocupação exclusiva por si mesmo e por suas próprias necessidades, é extremamente o contrário da proposta cristã.

Então, como surgirá um mundo novo? Não de um milagre de Deus. Ele não faz descer o pão do céu, Ele não favorece a preguiça dos homens. A multiplicação dos pães não é uma manifestação do poder extraordinário de Jesus. Foi nesse sentido errôneo que as multidões interpretaram o seu gesto, e por isso o procuram ansiosamente para proclamá-lo rei, para forçá-lo a fazer milagres, para saciar a fome de todos gratuitamente. De fronte da necessidade da comida Jesus responde operando um milagre, um gesto que não é difícil de interpretar: é um convite para a fraternidade, para a participação, para a renúncia a possuir e guardar para si.

O evangelista João é o único a observar que quem pôs à disposição de todos o pouco alimento que tinha era um menino. O detalhe é surpreendente: as crianças são as primeiras a acabar com o farnel;  portanto, muito improvável que, no meio de tanta gente, um menino e só um menino tenha guardado a merenda. O valor simbólico   do pormenor é evidente: em muitas passagens do evangelho a criança é apontada como modelo para o discípulo.

Por exemplo, aos que querem entrar no Reino do Céu, é imposto por Jesus que se tornem como crianças. Deste modo fica evidente o significado do episódio: o menino é o discípulo convocado para colocar à disposição dos irmãos tudo aquilo que possui. Esta é a grande proposta! É suficiente que os homens abandonem o próprio egoísmo e a própria ganância de possuir e guardar para si e aceite a lógica do Reino, a lógica da partilha e o milagre pode se repetir também em nossos dias. Haverá alimentos em abundância para todos.

Dom Moacyr José Vitti é Arcebispo Metropolitano

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