Já citei a ficção A Máquina do Tempo de H.G. Wells algumas vezes e provavelmente citarei algumas mais. Em sua última versão para as telas, nossa civilização é destruída em 2037 pela mineração da Lua que colapsa e causa uma chuva de pedras gigantescas. Essa era uma grande viagem na maionese até o desastre do Golfo do México. Agora passou a ser mais um exemplo em que a vida copiou a arte.

CARREGANDO :)

Esse desastre não é resultado somente da folga norte-americana. O andar de cima brasileiro gasta tantos recursos naturais quanto o americano médio. Você, leitor de jornal e usuário de carro, é tão culpado quanto eles. "Nós" é mais adequado.

Na outra ponta da sujeira do Golfo do México está a bomba do posto de gasolina. Ao usar um carro você está indiretamente apoiando isso. Com um carro flex, você está apoiando um problema mais crônico sem imagens dramáticas, mas igualmente sério.

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O tempo não irá curar tudo, como nos faz crer a matéria de 2/6 da revista Veja. Os enormes cardumes de arenque nunca voltaram depois do derramamento no estreito de Prince William em 1989. Resolve limpar o óleo das aves? Toda mãe sabe que não há banho que vá manter uma criança limpa se houver lama no jardim. Os voluntários bem intencionados com luvas e detergente gastam tempo e dinheiro para somente protelar uma morte por algumas horas. Esses animais silvestres nem podem ficar em cativeiro por muito tempo nem podem ser soltos em outro ambiente. Eles voltarão para o petróleo lá fora depois de posar para as fotos dando a impressão de estarem salvos.

Estado e iniciativa privada se unem nessa peça de ficção. O Estado age como prostituta barata, fazendo de tudo pelos vultosos impostos, e a empresa deseja maximizar seu prazer lucrativo e minimizar seu pagamento de multas, limpeza e restauração. Se você procurar imagens do derramamento no site da NASA, encontrará ao lado imagens mostrando a liberação "natural" de petróleo no golfo em 2009, como que dizendo que isso é parte da vida da região. É coincidência?

Não tenho ouvido mais falar do pré-sal nestes dias. Éramos o grande fornecedor de energia verde antes de descobrirmo-nos deitados no berço esplendidamente negro do petróleo profundo. Se isso acontecer por aqui teremos liderança política para enfrentar a empresa?

Lembremos o caso do derramamento no Rio Barigu-Iguaçu em 2000. Estado e Federação brigaram pela multa. Como a multa do estado era mais camarada, a Petrobras pagou rapidamente e isto é disputado pela Federação ainda hoje. A Petrobras afirma que "o tempo está resolvendo tudo", mas impede o acesso de pesquisadores à área, assim como tem feito a BP.

Essas mentiras são meio de vida para manter de graça um modo de vida sem graça.

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