Ouvi esta semana a jornalista Miriam Leitão desculpar a falta de resultados de reuniões como a Rio+20 com o argumento que "o tempo diplomático é diferente do tempo científico". Discordo.
As afirmações cientificas de hoje são resultado de um processo de deposição milenar de camadas de bom senso. Portanto, o tempo científico não é mais rápido que o tempo diplomático, contado em décadas. A diplomacia, inclusive, sabe ser muito rápida quando julga necessário. No último fim de semana, os ministros da Fazenda da eurozona (perdoem o galicismo adequado demais) fizeram uma videoconferência de três horas que culminou com a assinatura de um empréstimo de US$ 125 bilhões para a Espanha.
No caso do ambiente, governantes preferem tirar foto, plantar árvore ou, ainda menos que isto, usar os preços no Rio como desculpa para nem vir de vez. A posição brasileira na "Rio-20", (Estocolmo, 1972), ao menos, foi honesta: "Tragam suas indústrias para cá, pois precisamos de desenvolvimento". Em 40 anos só mudamos em hipocrisia.
A Rio 92 não trouxe nada de bom. Economizamos um tanto de energia com a internet, mas consumimos muito mais de outros lados com uma multidão de pobres que ansiava e finalmente tem conseguido copiar o mau exemplo ambiental dos ricos. Alguns poucos estão sendo mais exigentes com o que consomem ou, ainda melhor, com o que não consomem, mas isto é resultado de um outro processo milenar de deposição de bom senso que é a educação.
Nesta semana foi publicado um artigo de grande repercussão na revista Nature, que fala de uma iminente mudança de estado no planeta. Repercutiu ainda mais para mim, que me mudei nesta semana. Ambas as mudanças têm em comum uma elaboração e uma reorganização em um novo estado. A diferença é que geralmente ficamos bem em uma casa nova, enquanto que com efeito estufa, extinção maciça de espécies, desertificação e contaminação química não estaremos felizes. Talvez nem estaremos.
Grandes mudanças na Terra não são novidade; a primeira foi há meio bilhão de anos e ainda outras quatro ocorreram depois daquela. Também não é novo que se fale sobre isto; Rachel Carson fez muito sucesso com seu Primavera Silenciosa, verdadeiro em termos gerais, mas sem base científica no detalhe. A novidade é que um grupo de cientistas renomados afirme que estamos à beira de enormes mudanças.
Dê sua contribuição para o ambiente pensando um meio de ser melhor para seu meio; resumindo, eduquemo-nos. Fiquemos tão alheios quanto possível ao show da Rio+20.
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