Todos somos rápidos em concluir que as chuvas estão mais intensas por causa das alterações do clima. Já escrevi algumas vezes neste espaço que não havia relação confiável entre a mudança global e alterações locais, tais como a chuva paulistana.
O planeta é um sistema bem complicado e o aumento da temperatura global não implica obrigatoriamente chuvas locais mais intensas. As nevascas nos Estados Unidos, por exemplo, fizeram com que um senador Republicano ignorante construísse um igloo em Washington, que ele chamou a "casa de Al Gore". Assim como uma única nevasca não é prova da inexistência de efeito estufa, também não serão algumas chuvas a mais que serão prova conclusiva que com o aquecimento global teremos mais enchentes.
O cuidado científico pode parecer preciosismo, mas é importante porque gente poderosa tem gasto muito dinheiro para vender a ideia que "Há dúvidas se o clima está mudando". Basta um passinho em falso para esse povo colocar sua máquina de mídia associada a pesquisadores vendidos dizendo "Estão vendo como tudo está errado??!"
Nesta semana mudei de opinião e não foi por ter presenciado a versão aquática do inferno. Um estudo publicado na revista Nature desenvolveu um modelo de clima mais acurado que os anteriores, e ele relaciona eventos climáticos locais com a alteração global do clima.
Há uma década têm ocorrido mais eventos extremos de chuva no Hemisfério Norte, mas só agora foi possível ser conclusivo, rodando milhares de simulações de clima em alta resolução e comparando condições com e sem o efeitos estufa. O resultado é que a probabilidade de eventos extremos dobrou. O que era considerado um evento com probabilidade de ocorrer a cada 100 anos, irá agora ocorrer a cada 50 anos.
Por isso eu acho que você deve ficar alguns anos longe das ações das seguradoras. Ao final seremos nós que arcaremos com o aumento de enchentes, mas elas sofrerão prejuízo enquanto o preço dos seguros não subir para cobrir o aumento das enchentes.
Esses estudos serão os precursores de muitos outros que irão debruçar-se sobre fenômenos locais como o derretimento da neve no Oeste norte-americano, a seca no Sul africano e Europa e, espero, a concentração de chuvas na área da Floresta Atlântica, onde se soma um efeito global de alteração climática ao desmatamento local. Para isso temos estrelas em ascensão, como o agroclimatólogo Marcelo Aguiar, recém-chegado à universidade, mas já cheio de novas ideias.
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