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Nesta semana o estado de São Paulo corajosamente passou a obrigar a venda de sacolas biodegradáveis em supermercados. A decisão deve induzir outros estados a seguir o exemplo, assim como com a Lei da Cidade Limpa, que coibiu os excessos da mídia externa (esta da cidade de São Paulo).

O modo de acabar com a sacolinha não poderia ser outro, porque apesar de os estabelecimentos não gostarem de gastar dinheiro com saquinhos plásticos, nenhum deles pode dar-se ao luxo de cobrar e ver seus clientes irem para o concorrente. A mão invisível do mercado nunca iria limitar a si própria. Era necessário mesmo que alguma instância do governo o fizesse.

Mas há aspectos esquisitos no modo como São Paulo implementou isso. O diálogo entre governo, empresários e sociedade é sempre tendencioso. O governo tem um representante, os supermercados têm alguns poucos e a sociedade tem mi­­lhões. Os ausentes sempre terminam pagando a conta.

Por que o paulista tem de pagar R$ 0,19 adicionais para ter o saquinho em vez de receber esse valor na forma de desconto para não usá-lo? Será esse mesmo o custo do saquinho?

Há alguns anos, um supermercado de minha cidade me convidou para uma "ação ambiental". Depois de eles enrolarem muito, descobri que a ação ambiental era vender sacolas recicláveis a R$ 18. Nem os critico. É da natureza humana buscar tudo para si quando não há regulação.

O estabelecimento de um preço máximo é também esquisito e em seu primeiro dia já mostrou onde vai dar. Enquanto um supermercado vendia as sacolinhas a R$ 0,19, outro já vendia a 0,10. Em breve algum deles terá a luminosa ideia de oferecê-las de graça.

Os saquinhos vendidos serão biodegradáveis. Essa palavra lembra um produto amigo do ambiente. Pode não ser o caso, se esse saquinho for para um lixão, onde não há oxigênio. Mesmo em condições arejadas e perfeitas de compostagem, uma sacolinha dessas não se decompôs em um ano que a deixei ali. Para piorar, a matéria- prima que torna o plástico biodegradável é importada. É mais petróleo gasto em transporte.

Aproveite a atenção nas sacolas e pense mais no que você está carregando dentro delas (sejam biodegradáveis, recicláveis ou convencionais) e também como você vai ao supermercado.

Nenhum supermercado irá tentar convencê-lo a comprar menos. Tampouco o governo, que vive de impostos, mas o consumo é o vilão dessa história.

Sempre repito que a sacolinha é mais importante como símbolo que como essência. Ela soma uma fração muito pequena da poluição, mas como afeta todos diretamente, ela é boa para nos fazer pensar sobre nossos excessos, aliás, da mesma maneira que o consumo doméstico de água.

Se, apesar dos tropeços, a medida paulista fizer o país perceber como pequenas ações somam e refletem no bem-estar de todos, terá valido a pena até mesmo ter sido feito de bobo pelos supermercados.

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