A vida de um ser humano mentalmente capaz é definida por suas escolhas. Duas pessoas, diante das mesmas circunstâncias, podem optar por agir de forma distinta, obtendo resultados distintos. Mesmo em situações nas quais aparentemente não há escolha – como em um acidente, uma doença grave ou uma morte na família –, cada um é responsável por reagir de acordo com suas escolhas, e esta reação resultará em um futuro específico e único.
Se tivéssemos apenas de decidir coisas banais como a roupa que vestiremos de manhã, o que comeremos no almoço, para quem ligaremos, se levantaremos ou não para beber água, ou que caminho usaremos para chegar ao trabalho, já teríamos mais de dez decisões por dia a serem tomadas. Mas elas são muito mais numerosas, e abrangem todos os aspectos de nossas vidas: como reagiremos a um insulto, como falaremos com nosso superior no trabalho, que faculdade faremos, qual bairro escolheremos para viver, quantos filhos teremos, se seremos honestos ou não nas mais diversas situações, se agiremos com amor ou com ressentimento, se correremos para passar no amarelo ou se frearemos para esperar o próximo verde, e assim por diante. Acho que não cometerei um exagero se disser que tomamos pelo menos 50 decisões em um dia típico.
O que é a busca da igualdade total senão a negação completa do aspecto consequencial da vida?
Considerando somente os primeiros 60 anos de vida de uma pessoa, a quantidade de decisões tomadas ultrapassa 1 milhão. E aonde quero chegar com isso? Ora, se uma pessoa é definida por suas decisões, para que duas pessoas tivessem a mesma vida elas precisariam ter tomado mais de 1 milhão de decisões iguais, em circunstâncias iguais. As chances de algo assim acontecer são tão remotas que seria mais provável alguém ganhar toda semana na Mega-Sena do que duas pessoas tomarem exatamente as mesmas decisões durante os primeiros 30 anos de vida. E aqui quero fazer uma pergunta pertinente e central a este texto: por que as pessoas insistem em comparar suas vidas às de outras pessoas, tentando medir o próprio sucesso e a própria felicidade com a régua da vida alheia?
Esta questão não é apenas uma retórica de autoajuda ou um mantra hippie do tipo “seja feliz com sua vida”, mas está no cerne mesmo de toda a ideologia de esquerda. Afinal, o que é a busca da igualdade total senão a negação completa do aspecto consequencial da vida? O que é o Estado moderno de esquerda senão um gigante opressor cujo único propósito é esmagar a tomada individual de decisões debaixo de um esquema coletivista e autoritário?
Ludwig von Mises, em seu excelente A Mentalidade Anticapitalista, expõe com clareza o principal motivo pelo qual muitas pessoas odeiam o capitalismo e, por conseguinte, abraçam o socialismo e outras porcarias semelhantes: por causa de inveja e despeito. Aquele que não se deu tão bem, que não foi promovido ou que não enriqueceu por falta de mérito olha para o outro, que conseguiu essas coisas, e resolve tirar a responsabilidade de si mesmo e jogá-la sobre o sistema econômico vigente. A conectividade social dos dias de hoje só fez multiplicar esse fenômeno – se antes o sujeito olhava pela janela e sabia apenas o que se passava com os vizinhos próximos, hoje basta que pegue seu smartphone para espiar as “vidas maravilhosas” de milhares de amigos nas redes sociais. Ficou muito mais fácil ter inveja do próximo, ainda mais quando este exibe apenas o que lhe acontece de bom, muitas vezes com uma maquiagem pesada.
Enfim, dizem que um texto só é virtuoso quando causa uma boa reflexão. Se este texto fizer você, leitor ou leitora, refletir sobre a falta de lógica e o desperdício de energia que é tentar viver a vida de outra pessoa, ele terá cumprido seu propósito. Isso não significa se acomodar ou se resignar com tudo o que lhe acontece, mas tentar criar sua satisfação e felicidade a partir de suas próprias escolhas e reações. É tentar viver a sua melhor vida. Se isso acontecer, se cada um tentar viver o seu melhor, não sobrará espaço para o coletivismo ou para o igualitarismo; e quando essas coisas desaparecerem, a ideologia de esquerda desaparecerá junto. Utopia? Talvez. Mas pelo menos é uma que vale a pena perseguir.
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