Michel Temer assumiu a Presidência com a aprovação de uma nação cansada do petismo, mas logo de início mostrou que governaria pautado por aqueles que o odeiam e que querem o seu fim. Foi o que aconteceu quando ele acertadamente extinguiu o Ministério da Cultura. A medida, apoiada por grande parte da população, foi bombardeada incansavelmente por artistas e jornalistas de esquerda, os mesmos que dias antes adotavam o “fora Temer” como frase de parachoque. Em vez de manter seu pulso, agradar o povo e economizar dinheiro de impostos, Temer optou por ceder terreno aos seus inimigos.
A decisão que paira sobre o presidente hoje é muito mais importante e impactante para o Brasil do que a existência ou não de um ministério. A indicação de um ministro para o lugar de Teori Zavascki é daquelas que ecoam por décadas, muitas vezes além do período de vida do próprio presidente. Foi o caso de Dias Toffoli, nomeado por Lula quando tinha apenas 42 anos de idade, e que poderá exercer seu cargo até 2042. Na composição atual, o Supremo Tribunal Federal tem nada menos que sete ministros indicados pelos petistas Lula e Dilma, e a atuação de alguns deles, em diversas oportunidades, deixou bem clara sua orientação ideológica de esquerda. Temer tem em mãos, portanto, a chance de devolver um pouco do equilíbrio ao STF.
Há uma campanha extremamente desonesta de difamação e desqualificação de Ives Gandra Filho
Nos últimos dias, o nome de Ives Gandra Filho surgiu como possível indicação de Temer para a corte suprema. A quase totalidade da imprensa brasileira, ao se deparar com o currículo e com as posições de Gandra Filho sobre temas importantes – ele é favorável à revisão das atrasadíssimas leis trabalhistas brasileiras, é um crítico do excesso de tributos e do Estado inchado, é contra o ativismo judicial e, de quebra, é um cristão declarado –, entrou em estado de pânico com a possibilidade de que um conservador ocupe a vaga de Zavascki. Deu-se início, então, a uma campanha extremamente desonesta de difamação e desqualificação de Ives Gandra Filho e, ao mesmo tempo, a promoção incondicional de Alexandre de Moraes como a melhor opção para a vaga.
Dentre as táticas sujas utilizadas para denegrir Gandra Filho está a citação de trechos isolados de seus artigos, pinçados completamente fora de contexto e com o único propósito de criar uma impressão mentirosa sobre a linha de pensamento do jurista. Não colocarei aqui a prova completa da canalhice, porque alguém com muito mais conhecimento na área já o fez – o advogado e jornalista Taiguara Fernandes explicitou cada uma das citações pinçadas em excelente artigo publicado no portal Senso Incomum , no dia 26 de janeiro. Mas, a título de esclarecimento, farei um paralelo para você, leitor. Imagine o seguinte texto: “A noção de superioridade racial já variou bastante no decorrer da história humana. O homem branco é superior intelectualmente ao negro, acreditavam os nazistas. Mas, graças à evolução da ciência e aos avanços na área dos direitos humanos, esse tipo de discriminação sem fundamento faz parte de um passado já remoto”. Agora, imagine que alguém pinçou desse texto somente este pedaço: “O homem branco é superior intelectualmente ao negro”, e saiu falando por aí que o autor do texto é racista e que defende a mesma coisa que os nazistas. É exatamente isso que está sendo feito com Ives Gandra Filho. Note-se que esse tipo de atuação não é só moralmente reprovável, como também é crime previsto pelo Código Penal.
A melhor coisa que Michel Temer pode fazer é se espelhar em Donald Trump neste assunto. Trump anunciou na última terça-feira, 31 de janeiro, sua indicação para a vaga de Antonin Scalia: o conservador Neil Gorsuch. Respeitadas as proporções, Gorsuch é o Gandra Filho dos americanos. Fiel defensor da Constituição americana, ele tem um histórico de decisões favoráveis à vida, à propriedade privada, à liberdade de expressão e às liberdades individuais. Trump sabe que não pode governar para os que o odeiam, para os que o querem longe da Casa Branca; se fizer isso, será defenestrado rapidamente. Michel Temer parece não ter percebido isso; ou, pior, parece não ter a coragem necessária para governar em prol do povo brasileiro. Esse povo precisa de menos Estado em sua vida, menos regulação das relações de trabalho, menos interferência do governo nas empresas, menos impostos, menos leniência com criminosos etc. Indicar Alexandre de Moraes será apenas mais do mesmo. Se o presidente quiser deixar alguma marca positiva em seu governo, precisará de reformas profundas, e essas reformas precisarão de respaldo judiciário. Abrir mão de Ives Gandra Filho é abrir mão de um legado. Nesse caso, era melhor ter permanecido apenas como vice de Dilma. Afinal, do vice a gente não espera nada mesmo.
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