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A melhor foto

Segunda-feira todas as primeiras páginas de jornais brasileiros estampavam fotos de milhares de pessoas nas manifestações de domingo contra o governo.

Foto de manifestação tende a ser sempre igual. Só muda a cor da bandeira (às vezes), o ângulo da foto, o tamanho da multidão na foto aérea...

Mas, no meio da mesmice, havia uma cena inédita (ou pelo menos muito rara): crianças sorridentes posando ao lado de policiais militares fortemente equipados, igualmente sorridentes. Um sopro fresco de convivência humanizada num momento em que a sociedade respira o ar pesado da indignação, do ressentimento e da confrontação.

A ação da Polícia Militar nas manifestações tem sido fortemente contestada pela sociedade. É pouco eficaz contra os violentos, os vândalos e os depredadores. É muito truculenta e agressiva contra jornalistas, fotógrafos e manifestantes em geral.

Com as crianças perto, as manifestações ganham um pouco o caráter e a alegria de festa cívica. O adulto se sente menos propenso à violência e as crianças vão sendo educadas à participação política

Oxalá um momento de convivência pacífica e de apoio popular, como o ilustrado por essa foto dos policiais com as crianças, possa ajudar a mudar essa realidade. A truculência e a ineficácia não se resolvem com sorrisos e crianças bonitinhas, mas um olhar positivo pode sempre ser um ponto de partida interessante para uma evolução.

Do outro lado, a volta das famílias para a rua, num movimento que havia sido iniciado nas manifestações de 2013, mas rapidamente abortado pelo acirramento da violência, não deixa de ser promissor. Com as crianças perto, as manifestações ganham um pouco o caráter e a alegria de festa cívica. O adulto se sente menos propenso à violência e as crianças vão sendo educadas à participação política.

Isso é importante porque temos de estar conscientes de que este é um momento de semear para o futuro, por mais que se reivindique para o presente. Todos, tenham apoiado ou estado nas manifestações de sexta-feira ou de domingo, querem soluções para o Brasil de agora, não para daqui a quatro ou 12 anos. Mas uma convulsão social como a que estamos vivendo deixa marcas e origina processos que devem frutificar plenamente ao longo do tempo.

Há muitos obstáculos para que esses processos aconteçam. Falta abertura ao governo, que promete diálogo e humildade, mas não os pratica. O fisiologismo do Congresso parece crescer à medida que o governo se vê acuado. Os militantes pró e contra o governo, cheios de ressentimento, não se cansam de desqualificar uns aos outros, em vez de procurar novos caminhos.

Neste contexto, as fotos das crianças nas manifestações podem dizer muito mais que as das multidões, que geram polêmica e raiva entre os a favor e os contra.

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