Amigos e leitores recomendaram, por conta do meu último artigo tratando da chamada “guerra de narrativas”, a leitura de outro, de Luiz Felipe Pondé, publicado também aqui nesta Gazeta do Povo, intitulado “A história do Brasil do PT”. Tinha lido à época e agradeço a lembrança, pois me permite desenvolver melhor o assunto.
Pondé parte da mesma realidade, constatável a qualquer um que queira enxergá-la: “a história do Brasil narrada pelo PT continuará a ser escrita e ensinada em sala de aula. (...) Essa história foi criada pelo PT e pelos grupos que orbitaram ao redor do processo que criou o PT ao longo e após a ditadura. Este processo continuará a existir.” Pondé avalia que a esquerda ainda exercerá um “domínio cultural absoluto” por, “no mínimo, mais 50 anos”.
A opção marxista financiada há décadas resultou nesse show de horrores da narrativa do “É golpe!”
Deixemos de lado o exagero retórico. Se fosse domínio absoluto, não haveria um Luiz Felipe Pondé dentro da universidade, tampouco escrevendo em jornais e participando de programas televisivos. Mais ainda, o domínio e a hegemonia cultural esquerdista, embora esteja ainda longe de acabar, vem perdendo força com rapidez espantosa. É só prestar atenção fora do bunker universitário, onde ela ainda reina com folga, para se perceber isso.
Mas o problema no artigo está no que Pondé sugere seja feito para se contrapor: “A única saída é se as forças econômicas produtivas que acreditam na opção liberal financiarem jovens dispostos a produzir uma teoria e uma historiografia do Brasil que rompa com a matriz marxista (...). Institutos liberais devem pagar jovens para que eles dediquem suas vidas a pensar o país. Sem isso, nada feito.”
A única saída? Então, também será “nada feito”, porque o remédio proposto é, na verdade, o mesmo veneno vindo com embalagem trocada. Não por conter uma “opção liberal”, nada disso. Fosse a opção conservadora ou sei lá o quê, daria no mesmo, incorreria no erro grave de partir da teoria para os fatos. Se for assim, e isso deveria ser óbvio, haverá sempre seleção de fatos de acordo com a “opção” escolhida de antemão, assim como se poderá deformar os fatos para casar com a teoria predefinida. É o que estamos vendo na atualidade. A opção marxista financiada há décadas resultou nesse show de horrores da narrativa do “É golpe!”, sem nenhum escrúpulo de mentir descaradamente, deformando a realidade à sua imagem e semelhança. Quem garante que a “opção liberal” não chegará a tanto no futuro? Se a finalidade do seu financiamento é combater a matriz marxista, por que não mentir para derrotá-la e não deixá-la retornar?
Que a historiografia dos últimos 50 anos, pelo menos, precisa ser revista, é algo óbvio e urgente. Mas não para recontá-la assim, à luz de uma opção, seja qual for. A única garantia que temos é a busca pela verdade, com honestidade intelectual. É isso que devemos financiar sempre. Se não for pela verdade, somente a verdade, nada mais do que a verdade, jamais sairemos desta prisão em que estamos encarcerados: a prisão da ideologia, no sentido napoleônico do termo. O máximo que faremos é trocar de carcereiros.
Enfim, já passou da hora de sairmos desse mundo de Cazuza, ninguém precisa de ideologia para viver, não. E se isso te parecer impossível é porque Karl Marx - sim, ele mesmo - tinha razão quando disse: “Os olhos que só enxergam a mentira, quando percebem a verdade, cegam”. Mas é só não recuar assustado para sua caverna ideológica e deixar se acostumar à luz da verdade que a visão retorna. A Verdade é a única saída. Sem isso, nada feito.
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