| Foto: Gilberto Abelha /Arquivo Jornal de Londrina

“Natal me deixa triste”, fico sempre feliz quando escuto alguém dizer. Porque é sintoma de que se está perto de Deus, ainda que a contragosto. Tentarei explicar. Se há tristeza é porque algo falta ou foi perdido. A tristeza natalina traz a marca da solidão, afinal, ninguém gosta de passar o Natal sozinho. É que o Natal é um desses momentos em que essa solidão vêm à tona como cadáver insepulto de um naufrágio, revelando um vazio mais profundo, jamais preenchido, apenas distraído, enganado, mascarado pelos afazeres do dia a dia, pela alegria superficial dos feriados.

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Daí a necessidade de se arranjar uma festa qualquer, uma família qualquer, um ombro qualquer, no qual se apoiar, beber, comer, também presentear, tentar esquecer que se é só, por mais bem acompanhado que se esteja. Ninguém escapa desse vazio, todos sofrem a tristeza pela incompletude da vida humana. Quem falha em conseguir fazer do Natal nada além de uma ocasião para se distrair dessa solidão, parecendo não ter nascido ninguém, tudo o mais sendo alegoria de um mito estéril, superstições a que se apelam para mistificar a realidade dura da vida, enfim, quem falha nisso e a tristeza vence é porque sente a falta de Deus. Pronto, falei.

Um filho vem, antes de tudo, para nos esvaziar de todos os apegos, principalmente de nós mesmos

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Mas permita-se uma experiência. Na noite feita para todas as outras, depois de a correria e agitação se aquietarem, fique sozinho por alguns instantes diante do presépio – dá tempo de montar, vai lá. Apenas fique ali, como os pastores, como José e Maria, contemplando o bebê, deixando-se preencher da serenidade e plenitude que todo e qualquer bebê nos transmite, experimentando o que São Padre Pio de Pietrelcina dizia: “o Natal tem uma ternura, uma doçura infantil que arrebata o coração”. Aí, lembre-se de que quando Jesus nasceu não havia Igreja, nem apóstolos; não havia Evangelho, nem Bíblia; não havia Pai-Nosso, nem cristãos havia, só a promessa do Advento e o bebê.

Quão fácil é os próprios cristãos se esquecerem disso. Temos nossas igrejas, padres, pastores, santos, sábios, ritos, símbolos etc., tanta coisa que facilmente esquecemos a fragilidade original do objeto da nossa fé e esperança: um bebê. Um bebê que foi anunciado pelo anjo a José com o nome de Emanuel, significando: Deus está conosco. Ainda assim, apenas um bebê. E o que significa o nascimento de um bebê?

A espera do nascimento é sempre angustiante. Quem é ou foi pai e mãe sabe que a chegada próxima de um filho vai esfumaçando as falsas seguranças, esfarelando toda garantia ilusória: não há casa, conforto, bens, pessoas, remédios, dinheiro que garanta o nascimento com vida. Ainda que nasça com saúde, como assegurar que assim permanecerá no minuto seguinte? Um filho vem, antes de tudo, para nos esvaziar de todos os apegos, principalmente de nós mesmos, deixando uma única alternativa: amar incondicionalmente. Amor tamanho que não importará nem o que a criança será quando crescer. Ainda que se transforme no pior de todos os seres humanos, esse amor não decrescerá nem um tantinho, perdoaremos sempre – se você não tem filhos, quando tiver verá que é assim –, continuaremos amando a ponto de entregar nossa vida no seu lugar, se preciso for. Que dizer, então, do amor do Pai que entrega seu bebê para salvar todos nós? Eis o Natal.

A alegria do Natal é apenas fruto da gratidão. Por isso desejamos um feliz Natal. E não só a quem souber o que é o bem, como diz a música que não é de Deus, mas também para quem dele se esqueceu ou o renegou. O menino Jesus está conosco, ainda assim. Que Ele nos abençoe.

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