Leio nos jornais que a presidente, se vencesse a batalha do impeachment na Câmara, iria pedir um grande pacto nacional, sem vencedores ou vencidos. E se perdesse, como perdeu? Segundo o noticiário, Lula teria dito que “não estaremos nessa de união nacional. Não vamos colaborar”. Ao menos foi sincero. Lula disse também que, se o impeachment acontecer, não sairá mais das ruas, entrará em campanha permanente. Aí já não sei, a campanha até pode ser permanente, mas a prisão é preventiva, então pode ser necessário sair das ruas por um tempo. Vamos aguardar os próximos capítulos.
Mas, confesso, divirto-me bastante com essa dupla moral dos Adoradores do “Não Vai Ter Golpe”. Eu, pelo menos, rio. Vai ver é porque quando era estudante de Direito, tendo feito estágio na Penitenciária Provisória que era ali no Ahú, aqui em Curitiba, assisti a grandes atores interpretando o mesmo papel. Aqueles caras trancados lá dentro sabiam convencer, só havia inocentes lá, impressionante. Como desejo o melhor para o próximo, espero que o tempo de prisão ajude muitos dos “perseguidos” a se tornarem atores melhores – tenho certeza, precisarão disso depois de saírem. Vejam aí o José Dirceu, ele aprimorou muito o vitimismo, você assiste ao depoimento dele ao juiz Sergio Moro e quase acredita que, “sem falsa modéstia, R$ 120 mil [por mês] é algo irrisório”.
A campanha até pode ser permanente, mas a prisão é preventiva
Mas, para não ser injusto, eles não são propriamente da seita do Não Vai Ter Golpe; agora, são daquela do Impeachment Sem Crime De Responsabilidade É Golpe. Meus queridos, vocês já foram melhores nisso, hein? Estão se atucanando e não percebem. E, convenhamos, melhor perder o poder do que se atucanar – sejam honestos ao menos nisso. Já imaginaram se o Collor se saísse com essa em 1992? Quem não riria? Enfim, combinamos assim: quando vocês começarem a dar respostas sobre o conteúdo das delações premiadas e das gravações interceptadas com autorização judicial, compararemos o pedido de impeachment atual com os 50 que vocês apresentaram entre 1990 e 2002, que tal?
O mais hilário é quando, do alto do pedestal de cadáveres morais, os Adoradores mandam os outros estudar história. Como, para eles, história é versão, não tem diversão maior que desmontar a atual lembrando as suas anteriores. Por exemplo, hoje defendem vigorosamente a lei, o devido processo legal, a Constituição Federal. Mas, quando você lembra os Adoradores de que Lula e demais deputados petistas votaram contra a aprovação da Constitutição em 1988, ué? Hoje alegam que impeachment não pode servir de recall eleitoral, mas, se lembramos a fala de Lula em um programa de tevê, depois do impeachment do Collor, dizendo esperar que o povo brasileiro jamais esquecesse a lição de que é possível o mesmo povo eleger um político e depois destituí-lo, ué?
Enfim, uma coisa é certa: seja lá qual for o resultado final do impeachment no Senado, a presidente sairá dessa briga como a Lara saiu daquela briga com sua amiga. Não finja que não sabe do que estou falando, caro leitor, não há quem não tenha assistido a esse vídeo viral no YouTube. Depois de apanhar, Lara se levanta, faz pose de Não Vai Ter Golpe e lança novo desafio: “Já acabou, Jéssica? Já acabou?”