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Pesquisa de opinião realizada na América Latina evidenciou que as pessoas aceitam ditaduras desde que haja desenvolvimento econômico. Em Curitiba, onde a Gazeta do Povo perguntou a 522 habitantes se viveriam sob go­­verno autoritário em troca de mais desenvolvimento econômico, 31% respondeu sim. Na pesquisa feita em 19 países pelo Pro­­grama das Nações Unidas para o Desenvolvimento, 55% dos en­­trevistados apoiaria regime au­­toritário que trouxesse crescimento econômico. Esse é o pano de fundo para a resposta à pergunta título do artigo.

É preciso delimitar o conceito de democracia. A República da Coreia (Coreia do Sul) é democracia em consolidação. A República Popular Democrática da Coreia (Coreia do Norte) é monarquia populista ditatorial em estagnação. Ninguém põe na sua razão social ou nome de fantasia as palavras ditadura, tirania, mo­­narquia hereditária, porque a dissimulação é parte da tática para se manter no poder. Vê-se, não basta a pa­­lavra democracia, é preciso que ha­­ja situação política na qual a opinião da maioria defina os ru­­mos do governo, cujos membros são breves, assegurando-se a participação política das minorias e a possibilidade de que venham a se tor­­nar maiorias. Tudo isso, sem lu­­­­ta armada. São condições mínimas para se reconhecer a existência de de­­mocracia, independentemente de manobras com as palavras.

A democracia é incompatível com o desenvolvimento econômico? Samsung, LG, Hyundai, Kia, são marcas de qual das Co­­reias? Quem tem renda per capita de 25 mil dólares anuais? A comparação entre as duas Co­­reias não tem relação com as que­­relas entre capitalismo e socialismo, já se­­pultadas pela débâcle da União Soviética. In­­teressa saber se a maior ou me­­nor aproximação com o conceito de democracia resultou em ri­­queza ou pobreza.

Desde 1955 a Coreia do Norte foi governada por apenas duas pessoas, em regime de partido úni­­co. O finado governante, que tem o título de presidente eterno, é pai do atual, cujo filho ca­­çula já foi ungido como sucessor. A condição de membro do governo é vitalícia e hereditária. Por­­tanto, a legitimidade para governar não vem da opinião da maioria, mas da decisão do genitor que faz a escolha dentro da sua prole para legar o Estado como se fosse uma fazenda, fazenda pública. Da Coreia do Norte se tem notícia de fomes periódicas em grande escala, escassez de combustível e produção de mísseis e bombas nucleares.

A Coreia do Sul passou por regime ditatorial que foi derrotado por mobilizações populares no fim dos anos 70; a turbulência inicial do regime híbrido entre presidencialismo e parlamentarismo à francesa foi ce­­dendo passo à estabilidade e veio nos anos 90 a consolidação da economia sulcoreana como ex­­portadora de produtos sofisticados, disputando espaço com o Japão. Da sua pujança política moderna vem à memória o calor das discussões no Parlamento onde, às vezes, eclodem sopapos e arremesso de marmitex entre os deputados.

As Coreias são exemplos fortes do resultado econômico da opção política entre ditadura e democracia porque a situação original das duas após o fim da ocupação japonesa na Segunda Guerra Mun­­dial era exatamente a mesma: po­­bres, arrasadas, famintas. Quan­­do a península da Coreia foi dividida em dois Estados que trilharam escolhas de modelo político e econômico distintos, o re­­sul­­­­ta­­do se fez sentir em seis décadas, com a renda per capita no sul de­­mocrático sendo quase sete vezes superior à do norte ditatorial.

É verdade que a exemplificação quadradinha com as duas Coreias balança diante do desenvolvimento econômico da Chi­­na, cujo modelo político passa ao largo do conceito de democracia. Porém a análise dessa questão será feita na semana vindoura, na trilha da resposta sobre o valor da democracia.

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