Intelectuais com ar estudado de enfado e pessimismo militante soem prognosticar o fim da civilização ocidental, com argumentação baseada em conceitos de luta de classes fundidos a escatologia semirreligiosa de apocalipse. Elegem um satã mundano (os Estados Unidos) e vão de bar em bar filosofando embriaguez (álcool etc.) como messias da má-nova.
Os acontecimentos atuais com a etnia yazidi e outras etnias no Iraque detonam essa ideia de que o Ocidente é o pior dos mundos. Diga-se, de intelectualidade nada há nesse estereótipo do barbudinho sem banho e mal-humorado que é “contra tudo isso que está aí”. Existe apenas leitura escassa, preguiça de pensar e doses de milenarismo, como se o ótimo estivesse sempre no amanhã, mas para chegar lá é necessário destruir o hoje. Felipe González fala de revolucionários liquidacionistas que geram um dia de fogo e 70 anos de sofrimento, referindo-se a Pablo Iglesias, o bom moço contra o sistema, mas que apoia a ala teocrática no Irã e Maduro na Venezuela, além de andar de mãos dadas com o tiranete norte-coreano.
De intelectualidade nada há nesse estereótipo do barbudinho sem banho e mal-humorado que é “contra tudo isso que está aí”
Quando a presidente da República disse, na Assembleia Geral da ONU, que faltava diálogo com o Estado Islâmico, estava verberando essa linha de pensamento que enxerga na barbárie a senda do futuro e não a persistência do passado. A incredulidade dos demais chefes de Estado não descambou para a troça por força do protocolo diplomático, mas os comentários jocosos estamparam jornais e redes sociais. Claro, recebeu a solidariedade de Maduro, Evo Morales, Iglesias, Cristina Kirchner. Dize-me quem te apoia e te direi o que pensas.
No Irã, a vitória eleitoral dos moderados abriu a possibilidade de que a indenização de seguro de vida para homens e mulheres seja do mesmo valor. A mulher é, ainda, considerada como objeto e seu valor é medido pelo custo do trabalho doméstico. Quanto custa lavar a louça, limpar, cozinhar. Assim se define eventual seguro.
No Paquistão, como mostrou a Gazeta na semana passada, o Código de Proteção às Mulheres, aprovado por lei do Parlamento, está sendo alvo de intensa campanha de oposição de partidos e religiosos islâmicos que se sentem ofendidos por essa “ocidentalidade”. Os nossos barbudinhos acham que o Ocidente é uma porcaria, e os do Oriente também!
Monitoramento de agressores, disque-denúncia, casa de acolhimento de mulheres em situação de violência praticada por homem de sua relação pessoal ou familiar; delegacia da mulher; proibição de venda das filhas; incriminação do estupro. Fala-se na possibilidade de convulsão social e mais atentados a bomba contra a proteção legal deferida às mulheres.
O Estado Islâmico é a quintessência do atraso, mas não é evento fora da linha ordinária que marca a maior parte dos povos refratários à democracia e sua inevitável igualdade. Há leis do Daesh que regulam a escravidão das mulheres não islâmicas. São compradas e vendidas em mercados públicos, dos quais há centenas de vídeos e testemunhos. A normatização é detalhada a ponto de dizer que o proprietário não pode manter relações sexuais com mãe e filha. O resultado dessa regra é a separação das parentes, que passam a sofrer abusos sem ao menos contarem com pessoas conhecidas para amparo emocional.
Dizem os sabichões de Lenin, Gramsci, Marcuse etc. que a civilização ocidental é hipocrisia decadente. Se o tratamento das mulheres no Islã e adjacências for amostra da genuinidade vindoura, pare o mundo porque eu vou descer no próximo ponto.
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