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Há duas semanas o Parlamento britânico, por 274 a 12 votos, votou moção de reconhecimento do Estado da Palestina. Houve 300 abstenções, mas ainda assim a simbologia é alta. Essa circunstância de votos fez da moção apenas expressão de opinião, sem imperatividade sobre o primeiro-ministro Cameron. Por isso, o próprio já disse que manterá os esforços com os Estados Unidos para implementar a política de dois Estados definida pela ONU em 1948.

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Embora nada mude de imediato, os dirigentes de Israel sentiram a alteração do vento. A questão palestina foi ganhando visibilidade ao longo dos quase 70 anos da diáspora. A construção do Estado de Israel não se fez no vazio político-demográfico; havia um povo arabófono, muçulmano em grande número, com expressiva participação de cristãos e outras minorias religiosas em convivência não belicosa. Esse povo perdeu território e possibilidade de se autogovernar.

Os europeus mediaram inúmeros acordos de paz que foram frustrados. Quase todas as capitais do Velho Mundo sediaram conferências para alinhavar acordos que ganharam o nome das cidades, a exemplo de Oslo, em 1993. O insucesso na implementação das avenças produziu fadiga política, entojo com a persistência de Israel em diminuir ainda mais o território palestino, ao promover a construção de cidades exclusivas para israelenses e, na prática, anexar fatias de terreno. Em área minúscula, qualquer palmo de chão é precioso.

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Feridas não cicatrizadas existem de parte a parte e a espiral descendente de vingança pode ir ao inferno, a exemplo da recentíssima destruição da Faixa de Gaza pelas forças israelenses, em revide pelo assassinato aleatório de três jovens cidadãos de Israel por palestinos vinculados ao Hamas. A desproporção dessa guerra comoveu o mundo e os motivos que a ensejaram se apequenaram a ponto de serem esquecidos. Israel ganhou um tento no jogo e perdeu o apoio da torcida.

Ao incorporar o British accent, o dissenso com as posturas de Israel ampliou o rol ordinário que se confundia com fundamentalismo islâmico, marxismos mal humorados e populismo latino-americano, sem credibilidade e peso político-militar para influenciar o rumo dos acontecimentos.

A Suécia manifestou a intenção de formalizar o reconhecimento do Estado palestino, tornando-se a primeira das grandes democracias a fazê-lo. A liderança sueca nessas questões vem de longe e, certamente, a sua posição vai influenciar muitos países a adotar posicionamento semelhante, acuando Israel. O "anão diplomático" brasileiro talvez passe a ter a nanopresença israelense. Só que um é o Feliz; o outro, o Zangado.

O distanciamento da memória da Segunda Guerra Mundial é normal. São quase 70 anos da rendição alemã! A legitimação da época para o apoio à existência de Israel se cobriu com a poeira do tempo. É preciso ter legitimidade para as coisas de hoje, não de ontem. Contudo, Israel permanece gastando esse capital político como se fosse infinito.

Os britânicos soaram o alarme de bateria fraca e podem provocar mudança de rumos se houver alguma lucidez no governo hebraico.

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