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Allah-La-ô, mas que calor, ô, ô, ô, ô. Atravessamos o deserto do Saara, o sol estava quente, queimou a nossa cara. Allah, meu bom Allah, mande água pra Ioiô e pra Iaiá! Carnaval cálido da marchinha antiga que permanece na memória enquanto somem essas músicas prèt-a-danser que duram até as cinzas. Nos versos que alegram salões há quase 80 anos, se vê o sufoco com o calor e a secura. Pode ser usada como trilha sonora do atual fevereiro tórrido que deixará saudade quando as águas de março fecharem o verão e o clima oscilante de Curitiba voltar, para todo mundo reclamar do frio e da chuva.

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Neve em julho de 2013; como vaticinar semanas equatoriais seis meses depois? O mundo está louco ou de perto ninguém é normal? Talvez seja isso: estamos observando com mais acuidade o clima; eventos que passavam sem registro detalhado agora são anotados nos mínimos detalhes. Haroldo Lobo e Nássara, ao criarem a música que fala sobre o calor, deixaram observação – não científica – sobre o clima do fim dos anos 30. À margem da discussão sobre mais ou menos calor, mutação climática, apocalipse now, estou derretendo enfatiotado. A gravata e o paletó, trapo para aquecer o pescoço e casaco para agasalhar o tronco, parecem instrumentos de tortura que obrigam a manter a pose enquanto causam muito sofrimento.

Baboseira, direis vós que não transpirais, o calor te fez perder o senso e o efeito do desodorante, também. Eu vos direi que deselegante é suar em bicas, molhar a camisa, cheirar mal ao fim da tarde. Ora, a etiqueta da indumentária sói ser cópia tola de outras paragens. Nas friagens europeias, onde o ar condicionado é lá fora, o terno completo é condizente com o clima. Qual a razão para, nos trópicos, fazer de conta que se está na Europa?

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Dize-me como te vestes, dir-te-ei quem és. Sim, o traje comunica, transmite informações sobre a pessoa; bombeiro, policial, médico, advogado, jogador de futebol. Porém é possível que as vestes confortem quem as porta e mantenham sua função semiótica. Um policial militar em serviço trajando roupa leve, curta, com as cores e símbolos da corporação, impõe tanto respeito quanto outro que esteja de calças e mangas compridas.

Jânio Quadros, nas suas maluquices quase geniais, tentou consolidar a moda do conjunto safári, com ares tropicais. Meteórico, brilhou e se queimou rapidamente, levando com ele a inovação. Talvez a ideia tenha falhado porque muitos ligaram o traço da roupa àquela usada por Mao Tsé-tung e viram no despojamento alguma ilação comunista.

Sei que esse papo soa como discurso de mesa de bar, coisa de quem prefere bermuda a smoking, sandália a cromo alemão. Mas que está na hora de os homens queimarem gravatas e paletós, à semelhança da libertação feminina com a pira de sutiãs, está! Os porta-peitos voltaram à moda para sustentar as coisas que haviam despencado na sua ausência; contudo, o trajar feminino se tornou menos opressivo que o masculino no quesito temperatura.

Homens calorentos do mundo, uni-vos. Abaixo a fatiota, viva a saia! Ops, será?

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