O ministro Gilberto Carvalho afirmou que há muitos assentamentos rurais favelizados, sendo imperioso mudar a política de dar terra e manter os rurícolas dependentes do Incra, sem concretizar a esperança de autonomia. A crítica foi ácida: o Movimento dos Sem-Terra disse que a presidente está iludida com o agronegócio, seu governo é um dos piores na reforma agrária e não percebe a desnacionalização das terras e dominação das empresas transnacionais; a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura adjetivou de pejorativa a expressão "favela rural".
Para o MST, o desenvolvimento da agricultura familiar exige investimento do Estado, dando infraestrutura, assistência técnica, compra da produção. Com menos ênfase na dependência em relação ao poder público, a Contag pediu crédito e assistência técnica para os assentados. Adão e Eva esperavam que Deus desse tudo, bastando estender a mão para apanhar frutas pret-a-manger. Pena que a vida fora do paraíso impõe sofrimento para que nos alimentemos. É preciso trabalhar muito, ter iniciativa sem esperar que o Estado, o deus ideológico, tudo provenha.
Os milhares de assentamentos feitos desde a Lei do Estatuto da Terra, de 1964, geraram riqueza, retendo as pessoas voluntariamente no campo? Em 1960 havia 38 milhões de brasileiros na roça e 31 milhões na cidade. Em 2000, 138 milhões nas cidades e 31 milhões fora delas, prevendo o IBGE que em 2050 a população agrícola será de 6 milhões de pessoas, 2,5% do total de habitantes. Gastaram-se fortunas de dinheiro público; milhões de pessoas foram postas na atividade rural e poucas permaneceram. A distribuição de glebas é projeto do século 19, mantido contra os fatos modernos.
Questão diferente é lutar contra a concentração excessiva da propriedade de imóveis rurais. Não por razões socialistas, mas por liberalismo. Os oligopólios matam a competição, reduzem a eficiência, desequilibram a distribuição de poder dentro da sociedade. Para salvar o capitalismo pode ser necessário fazer reforma agrária. Móbil distinto dos chamados "movimentos sociais" que glorificam a vida campestre.
Ontem todos eram obrigados a produzir o próprio alimento. Morava-se compulsoriamente no campo. Hoje, máquinas amanham a terra e as pessoas podem viver nas urbes, de modo a potencializar inteligências, gerando riqueza cultural nunca alcançada em sociedades agrárias. A urbanização é uma das consequências da ciência que levou os humanos a quase se libertarem da natureza. Não há retorno.
Adâmicos veem as pessoas como anjos caídos, vitimados pela corrupção da vida urbana. Os assentamentos servem para eliminar as maldades sociais que depravam os humanos. Em ambiente rural restaurar-se-á a angelicalidade. Pol Pot levou essa tese ao extremo. Crânios de milhões de cambojanos testemunham o desastre. Para essa visão nostálgica, deve-se voltar ao começo.
A agricultura é negócio, não sacerdócio. Afagar a terra, fecundar o chão, atos prenhes de simbolismo que remetem ao passado. O paraíso não está numa antiga inocência perdida na degustação da fruta proibida. O éden está no futuro, como construção que admite as imperfeições e engenha boa convivência, urbana e rural. Constructo, não dado.
A sentir saudade de passado inexistente, preferível ansiedade para construir o futuro.
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