• Carregando...
 |
| Foto:

A descrição das idiossincrasias do presidente da França, François Hollande, na mídia internacional não indicava que haveria envio de soldados ao exterior para entrar em combate extenuante, no meio de um vespeiro de fundamentalistas islâmicos dispostos à violência absoluta para impor suas ideias.

Hollande é o oposto de Sarkozy. Este era saliente no alto do salto, tinha discurso belicoso, quase napoleônico, mas não pôs legiões para lutar no solo sem companhia de outras forças em nome da ONU. Aquele é chamado de "homem normal", "padeiro da bagueteria". Para nós, seria picolé de chuchu, ao estilo Geraldo Alckmin, governador de São Paulo. Insosso, insípido, inodoro, Hollande pôs tanques, blindados, jipes, batalhões, suprimentos por via aérea, tudo para sustentar enfrentamento no Mali, país desértico no sudoeste do Saara, que pode se prolongar e trazer repercussões para o Ocidente.

É difícil para nós, às vésperas do Carnaval, olhar o Oceano Atlântico e acreditar que do outro lado está havendo guerra em nosso nome. Aviões supersônicos bombardeiam maltrapilhos que empunham AK-47s. De certa forma já vimos esse filme várias vezes. Há intenso dejá vu. Vamos dormir sossegados porque soldados que fazem biquinho para falar estão matando e morrendo a pretexto de fazê-lo por nós? Ou devemos perder o sono porque estão fazendo isso sem que tenhamos sido consultados?

Ocidente, Cristandade. Parece tudo a mesma coisa para quem olha de fora. Quando se olha de dentro, nem a sensação de ocidentalidade existe por aqui. Somos brasileiros, isolados na nossa ilha-continente. Mali, Al Qaeda, Saara, França. O que uma coisa tem a ver com a outra? É possível ir ao passado, até o império colonial francês na África Ocidental, ver a degradante guerra da independência da Argélia e estabelecer as conexões com os discursos sobre a operação Serval e a insistência de que a França não está sozinha. Quem a acompanha?

Resolução da ONU autoriza a intervenção francesa até que forças africanas em coalizão deem suporte ao governo de Mali. Com sutis distinções, é o que ocorreu no Afeganistão, onde não há governo capaz de se sustentar até hoje. Cabul havia se tornado o ninho do terrorismo de motivação islâmica; depois do atentado contra o World Trade Center, os fanáticos foram afastados e se imaginou que instituições civilizadas estabeleceriam paz entre os afegãos e tranquilidade para o mundo. Plano em execução há mais de dez anos; a tensão só aumenta e o Afeganistão continua na idade da pedra. Em Mali o protogoverno está ameaçado pelos rebeldes que vêm do deserto em direção à capital para tomar o poder. A intenção francesa é evitar a talibanização e instalação de nova base para o terrorismo. Vai dar certo?

A fortiori, esses acontecimentos são efeito da Primavera Árabe. A aniquilação da tirania de Kadafi na Líbia gerou vazio político que permitiu a venda indiscriminada de armas a todos que têm uma revolução na cabeça. A França capitaneou a derrubada de Kadafi e agora deve arcar com os ônus decorrentes da vitória. Augura-se, consigam sair à francesa.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]