A semana passada foi agitada e não faltaram assuntos: Lei da Ficha Limpa valendo a partir da eleição de 2012; mortes à bala de oposicionistas na Síria; resistência do Kadafi; voto do Brasil, no Conselho de Direitos Huma­­nos da ONU, a favor da investigação da violência do governo do Irã contra a oposição; piora das condições na usina nuclear de Fukushima; discurso do Evo Morales quase declarando guerra ao Chile por causa do acesso ao mar; ausência deliberada do Lula na festa de recepção ao Obama; aumento de 20% nas vendas de carros no Brasil; aumento forte do preço dos combustíveis; abertura do portal da Transparência da Assembleia Legislativa do Paraná. Montanha-russa com todos os suspiros e frios na espinha possíveis. Mas, para mim, uma notícia se fixou na retina: o capitalismo desertificou Marte. Essa foi a grande sacada da semana!

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Como se sabe, o planeta que recebe o nome do deus viril e guerreiro dos romanos é imenso deserto. Autômatos, com formato de carrinhos de controle remoto de criança, vasculham o solo marciano à cata de água para preparar a futura chegada de colonizadores terráqueos. Esse planeta xerótico, que talvez tenha sido coberto por oceanos num passado remoto, foi vítima do capitalismo e do imperialismo nas palavras de Hugo Chávez, ao discursar no Dia Mundial da Água. Deus do céu, como ninguém havia tido essa percepção antes? Como pudemos mascar, tal qual muares, a mendaz dissimulação do capital vadio sobre o ataque desferido nas plagas vermelhas. Quedamos em ataraxia à Jeca Tatu enquanto os gringos espoliavam Marte até transformá-lo num planeta morto.

A troça jocosa sobre a afirmação chavesca é modo de não chorar diante da tragédia do tirano latino-americano. As democracias também têm os seus Tiriricas no Parlamento e no Executivo, mas duram menos tempo e saem de cena sem banhos de sangue. Esses ridículos "Jefes de Estado" que se apropriam da república perdem o senso e veem estrelas, imaginando-se oniscientes, aptos a propagar os seus dogmas como se fossem profetas iluminados diretamente pela divindade. De certa forma, esses são os modestos. Há alguns que imaginam ser a própria deidade. Na perspectiva desses tiranos o povo não é constituído por pessoas feitas da mesma matéria e também aptas à direção das coisas públicas; o povo é massa ignara a tanger como rebanho a ser protegido dos lobos. Os tiranos infantilizam os povos e se posicionam como pai (nunca, mãe) que tem a bondade de educar e o poder de corrigir os renitentes.

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O capitalismo e o imperialismo, demônios retóricos típicos dos subdesenvolvidos, passaram em Marte como gafanhotos nos faxinais socialistas e exauriram os recursos hídricos. Para completar o rol de afirmações hilariantes de tão absurdas, o presidente bolivariano disse que o bombardeio da Otan sobre o exército de Kadafi na Líbia é por domínio sobre fontes de água. Bem, um pouquinho de conhecimento de história serviria para mitigar essa exposição de ideias chãs; se Chávez tivesse estudado, saberia que a destruição do Mar de Aral, o maior desastre ambiental antrópico, foi fruto do socialismo soviético, sob Stalin, o papa de todos os tiranos.

Tiranos não estudam porque não admitem contestação. Assim, têm salvo conduto para falar besteira. O riso diante da conduta histriônica é o modo de o povo resistir e seguir adiante. A democracia, com a brevidade do exercício do poder, é antídoto contra a loquacidade presunçosa e deprimente. Como é agradável um chefe de Estado que se limita falar sobre o seu métier!