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Friedmann Wendpap

Parque do Iguaçu

 | Gilberto Yamamoto
(Foto: Gilberto Yamamoto)

O avião trepida ao se aproximar do aeroporto de Foz do Iguaçu; colide com nuvens que parecem flocos de algodão-doce. Embaixo o verde da floresta encanta os olhos. O comissário ordena que os encostos sejam postos na vertical, as mesinhas travadas. Obedeço mecanicamente enquanto o olhar está capturado pelas árvores que parecem cílios numa curva do Rio Iguaçu. Conheço o lugar desde a infância e continuo criança quando as borboletas flanam aos milhares na estrada em direção às cataratas. De repente estala a indagação: como algo tão lindo foi preservado? Começo a perceber que sei mais sobre faraós do que sobre a história do Paraná, especialmente da minha região natal.

Volto a Curitiba, fico preso num engarrafamento na região do Rebouças. Com tempo de sobra para pensar, comecei a me lembrar de algumas referências de André Rebouças – um dos engenheiros que deu nome ao bairro – à beleza das Cataratas do Iguaçu e também me lembrei do esforço de Santos Dumont para convencer os políticos sobre a importância de criar o parque para protegê-las. Percebi, então, que foi preciso um baiano e um mineiro insistindo no tema para que os paranaenses acordassem!

Decidi vencer a minha ignorância acerca do história do Parque Iguaçu e comecei a vasculhar alfarrábios; cada página lida incrementou minha admiração por André Rebouças e Alberto Santos Dumont, brasileiros merecedores de reverência pela vanguarda na preservação do patrimônio natural. Não encontrei nenhuma alusão a eventual visita que Rebouças tenha feito às cataratas, embora a descrição que ele publicou em 1876 cause a impressão de que as conheceu pessoalmente, destacando-se a sugestão de preservação da floresta no trecho entre as Sete Quedas e as Cataratas do Iguaçu.

Quarenta anos depois da publicação dos comentários do engenheiro Rebouças, Santos Dumont esteve em Foz do Iguaçu. O périplo merece registro: nos Estados Unidos, visitava fábricas de aviões destinados à I Guerra Mundial; de navio, foi para o Chile onde participou de Congresso de Aviação; de Santiago viajou a Buenos Aires para receber homenagens e ali foi convencido a subir o Rio Paraná de barco para ver as cataratas. Quando os brasileiros souberam que o patrício famoso estava do lado argentino, foram ao seu encontro em comitiva, e ele chegou a Foz do Iguaçu em abril de 1916. O anfitrião, Frederico Engel, o levou pela floresta até as cataratas. Dumont, caminhando sobre toras enroscadas nos penhascos, ficou horas fitando os saltos e ao ser alertado sobre o perigo, disse que as alturas não o intimidavam. Quando soube que o lado brasileiro das quedas era propriedade particular, bradou que aquela beleza deveria ser pública. Tomado pela certeza de que tinha de agir para abrir ao mundo as quedas mais espetaculares que Niágara, decidiu viajar a Curitiba, para falar com o governador do estado e pedir providências para que a área fosse preservada.

As dificuldades da viagem dão a medida da convicção que o moveu: seis dias a cavalo entre Foz e Guarapuava, seguindo a trilha do telégrafo; mais três dias entre Guarapuava e Curitiba usando automóvel e trem. Nove dias! Curiosamente, meu pai fez o trajeto em 1956, de trem e ônibus, e demorou três dias. Quarenta anos depois de Santos Dumont e ainda estávamos quase na velocidade da carroça.

Curitiba se rendeu a Dumont, parou para vê-lo, fez festa para a celebridade mundial. O governador Affonso Camargo, hoje nome da avenida defronte à Rodo­­ferroviária, o recebeu e atendeu ao pedido, declarando a utilidade pública da área lindeira às cataratas. Assim começou a preservação da floresta que dá tom especial ao Oeste do Paraná.

A André Rebouças devemos o sonho. A Santos Dumont, a determinação.

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