Há semanas escrevi sobre a formação do preço dos bens materiais e imateriais (serviços). Sem rigor acadêmico, foquei a atenção na dificuldade que as pessoas têm para compreender como se fazem os preços e a indignação moral mas irracional que surge diante da água mineral a R$ 10 o litro, na ocasião em que várias localidades no Litoral do Paraná ficaram isoladas por causa de tempestade que destruiu pontes e estradas, em 2011. É justo que o preço de item vital se eleve em situação de escassez?
Antes de continuar o raciocínio: ainda que não existisse dinheiro, as pessoas trocariam bens entre si e precisariam apreciar estabelecer preço para fazer o escambo de vaca por ovelha. Uma por uma, uma por duas, por três? Uma hora de trabalho do xamã por três do caçador? O preço revela o valor de um bem em relação a outro. Assim, mesmo numa sociedade primitiva (socialista para quem bebe chá de lírio), tudo tem preço.
Como chegar ao preço "justo"? Os filósofos que formaram o pensamento ocidental tinham ojeriza ao lucro. Thomas More dizia que na Ilha da Utopia os preços eram moderados. Comprar barato e vender caro é imoral, segundo nossos pensadores. Bem-intencionados, propuseram critérios morais para a fixação dos preços.
Contudo, nenhuma filosofia supera o fato de a escassez resultante do balanço entre oferta e demanda definir o preço das coisas. Muita sede, pouca água, preço alto. Ricardo III, personagem de Shakespeare, ofereceu o reino para pagar um cavalo quando se viu a pé no campo de batalha. O cavalo mais caro da história! A escassez fez o preço.
O furor moralista explode nas passeatas virtuais do Facebook quando o preço sobe, mas ninguém faz campanha para socorrer os comerciantes de água que beiram a falência nos invernos longos. Quem salva os bananeiros do preço de banana? Os revolucionários de teclado não percebem que o encarecimento evita desperdício de recursos materiais e humanos.
Em Lucro sujo lições para quem odeia o capitalismo, Joseph Heath versa, com graça e leveza, sobre a falácia do preço justo e a tendência a agir com base em intuição moral ante o sofrimento de quem tem dificuldade para pagar preços altos. Heath diz que essa falácia leva as pessoas a culpar os preços pelas injustiças, deixando de dar atenção às diferenças de renda.
A gana populista de controlar os preços ocasiona efeitos nocivos como a falta de papel higiênico na Venezuela. O Brasil teve trauma semelhante com o Plano Cruzado. Por isso, os mecanismos de complementação de renda (bolsas) que nasceram com o Plano Real são importantes porque distribuem renda, propiciando poder de compra sem afetar o equilíbrio dos preços.
A liberdade de fixação de preços, inclusive quando há pouca água para os sedentos, é socialmente mais saudável do que a definição política dos preços nas economias escravas do planejamento central. Na lição de Heath, os preços livres geram eficiência e as ações de complementação de renda, justiça.
O aniversário de 20 anos do Plano Real é ocasião ótima para refletir sobre a recente politização de alguns preços combustíveis e energia elétrica, por exemplo que ameaça trazer o passado de volta.
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