Nem todo bem cultural, fruto da criação humana, é bom. Isso é óbvio. Porém, quando estamos falando particularmente de obras de arte, é notório que essa noção foi se diluindo em décadas recentes. Há boa e má arte; ou, poderíamos dizer, arte bela e arte feia. É possível dizer muitas coisas sobre A Fonte de Duchamp, menos que há beleza retratada ali. Gregory Wolfe é um estudioso contemporâneo que pretende resgatar a noção do belo, apontando que ele está, sim, conectado com o bom e o verdadeiro. Eliana de Castro entrevista o autor de A beleza salvará o mundo , que mostrará que as melhores criações do espírito humano não são subproduto de ideologias – de direita, obcecada com o passado; de esquerda, obcecada com o progresso –, mas são fruto de um sincero empenho de busca da verdade.
Anacronismo
Há diferença qualitativa entre obras da “alta cultura” e da “cultura popular”? É certo que sim. Porém – no que, inclusive, Gregory Wolfe está de acordo – fechar os olhos para o que é moderno só porque não está inteiramente alinhado com os cânones da tradição é de um anacronismo boboca. Há alta cultura sendo produzida hoje, e há também cultura pop de qualidade sendo produzida. Pode-se dizer que são boas as obras de arte que edifiquem a alma de algum modo, retratando dilemas existenciais, apontando para a verdade, reforçando os valores em que nossa civilização se apoia. Os “conservadores” autênticos não são aqueles apegados ao passado, mas aqueles que simplesmente querem conservar o que é bom – e pode ser só bom, não precisa ser excelente todo o tempo, sob o risco de cairmos num artificialismo que perde todo o contato com o mundo contemporâneo. Nem só de Homero, Bach e Rembrandt vive o homem moderno. Thomas Giulliano, sem perder de vista a necessidade da absorção do legado cultural mais primoroso, advoga o valor da boa cultura pop.
Apropriando-se do pop
O fato é o seguinte: quem muito bem sabe utilizar a cultura pop como veículo de propaganda, de modelagem da imaginação, é a esquerda. Considerando que a maior parte das pessoas não é constituída de filósofos, críticos de arte e intelectuais, e que forma suas opiniões com base em impressões e no que diz a grande mídia, o papel dos “formadores de opinião”, o que inclui a classe artística, é o papel de educadores. Se vivemos uma guerra cultural, é importante que entre os conservadores haja aqueles que transmitam às novas gerações a sabedoria dos clássicos, mas também aqueles que saibam dialogar com o grande público, apropriando-se duma linguagem mais moderna. Desculpem-me as alminhas sensíveis dos puristas, mas vocês vão acabar falando só entre vocês e passarão longe de entender os dilemas do homem do século XXI, e a ele não poderão prestar serviço algum. John Daly passa o recado do atraso conservador no campo da cultura pop.
Moraes impede viagem de Bolsonaro aos EUA para participar da posse de Trump
Mudança no monitoramento de conteúdo do Facebook põe em xeque parceria com o TSE
Após derrota do governo com o Pix, grupo vai acionar Nikolas Ferreira na Justiça; assista
Governo publica MP que proíbe taxar Pix e o equipara ao pagamento em espécie