(Alerta de muitos spoilers nos textos indicados na coluna de hoje!)
Já disse, em uma coluna passada, que “chocar” é um mandamento para (quase todas) as séries e filmes de grande sucesso. E podem observar que, com o passar dos anos, é preciso aumentar o nível de baixaria, escatologia e crueldade para que a plateia – que progressivamente se dessensibiliza para o que é retratado na tela como que sabendo estar salvaguardada pela “quarta parede” – se surpreenda com o que está sendo exibido. Fico desapontada quando percebo, assistindo a alguma série ou filme, que não há ali nada além de cenas chocantes. Definitivamente, não é o caso de Black Mirror. O que essa série tem de perturbadora tem de crítica e profética. Crítica, no sentido de ironizar o tal progresso civilizatório, ao qual não só marxistas, mas também liberais prestam tributo. A série foca no segundo caso, mostrando que o tão saudado avanço da tecnologia não vem acompanhado do progresso moral do homem. Profética, no sentido de que é ambientada numa época não muito distante da nossa, mostrando tecnologias que parecem um upgrade das que já possuímos. João Pereira Coutinho entende Black Mirror como a expressão das misérias humanas, que não se apagam, até se amplificam, com o sujeito que se esconde atrás da tecnologia.
Save the whales
Rodrigo Constantino comenta um dos episódios de Black Mirror, em que certos dispositivos são implantados em soldados para fazê-los ver seus inimigos como animais, e não como humanos. Há diversas formas de dessensibilizar pessoas para aqueles que são, por algum motivo, inimigos. Black Mirror mostra essa premissa levada ao cúmulo. Retrata, com lentes de aumento, a degradação a que um sujeito acaba por se submeter quando nega a outrem o status de humano. Entendedores entenderão...
Em uma galáxia não tão distante...
Sam Wollaston ressalta que a série, apesar de uma ficção científica, importa menos pelo retrato futurista e mais pelo que fala a nós, cidadãos desse mundo que já é maluco o suficiente nos dias de hoje. (texto em inglês)
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