Logo depois do oferecimento da denúncia do MPF contra Lula, (a.k.a. o “dia do power point”), algum difamador espalhou nas redes sociais o boato de que os procuradores da Lava Jato teriam dito, a respeito do envolvimento do ex-presidente no esquema do petrolão, a seguinte frase: “não temos provas, mas temos convicções”. O intuito, evidentemente, foi de minar a credibilidade das acusações do MPF. O embuste já foi desmentido, mas o boato, em alguma medida, colou. Até hoje há quem acredite – ou melhor: quem teime – que não há provas de que Lula recebeu propina da OAS, que é tudo invencionice da força-tarefa. Ora, terá Léo Pinheiro, mui generosamente, feito uma reforma no tríplex do Guarujá, sob medida para Dona Marisa (fato revelado tanto por testemunhos quanto por mensagens trocadas entre Léo Pinheiro e o arquiteto da reforma, que se referia a Marisa Letícia como “Dama” ou “Madame”, e a Lula como “Chefe”), em valor superior a R$ 1 milhão, apenas para convencer a família Lula de que valia a pena comprar o imóvel? E como explicar a rasura no documento da OAS, assinado por Dona Marisa, de reserva do apartamento – onde estava escrito 174-A (o tríplex) foi riscado para 141 (que já era de Marisa)? No caso do sítio em Atibaia, o que dizer do fato de que até barco com a inscrição “Lula e Marisa” foi encontrado no local, mas absolutamente nenhum pertence dos donos que constam na escritura foi identificado? De fato, não há o nome de Lula nas escrituras do tríplex e do sítio. Mas qual corrupto assina documentos que confirmam o recebimento de propina? Nas ações em que Lula é réu é impossível haver esse tipo de prova cabal. Mas há provas indiciárias em abundância, que mais parecem flechas vermelhas apontando para Lula. A jurisprudência a respeito de condenação com base em prova indiciária já está pacificada: basta que os indícios sejam sólidos. Confira, neste texto de Ivanildo Terceiro, os pontos incriminadores que Lula ainda não conseguiu, nem em sua autodefesa, explicar a contento.
“Eu não tenho hábito de falar ao telefone, eu me cuido”
Pode-se dizer muita coisa de Lula, menos que ele é um articulador e um estrategista ruim. Sua inteligência de raposa coordenou com bastante competência inúmeros laranjas, empresários, políticos e burocratas ao longo das duas últimas décadas. Ele não deixou sua impressão digital em nenhuma de suas ações criminosas. Isso é precisamente o que chefes de quadrilha fazem. Mandantes não deixam rastro, não assinam documentos, não falam ao celular. Aliás, durante seu interrogatório, talvez num ato falho, Lula soltou a frase “eu não tenho hábito de falar ao telefone, graças a Deus!, se até conversas familiares [minhas divulgam]... Então eu me cuido”. Quanta precaução! Quem não deve não teme, ex-presidente! Não bastassem os indícios que foram acima citados, os testemunhos engrossam o caldo de provas que comprometem Lula. No vídeo a seguir, Felipe Moura Brasil traça um paralelo entre os fundamentos que levaram à condenação de José Dirceu no caso do mensalão, e aqueles que hoje pesam contra o ex-presidente nos processos em que este é réu. Para ambos aplica-se a teoria do domínio do fato, que diz que é autor não apenas quem realiza a conduta típica, mas o chefe da quadrilha, aquele que tem controle final do fato. No julgamento de Dirceu, Roberto Gurgel, então procurador-geral da República, explicou que, nos casos em que se investiga um mandante, “a prova de autoria de crime não é extraída de documentos e perícias, mas essencialmente da prova testemunhal, que tem, é claro, o mesmo valor probante das demais provas”.
A estrela cadente
O cronista Wagner Schadeck recorda a trajetória do petista-paradigma, Luís Inácio, partindo dos tempos em que o PT se autoproclamava bastião da ética na política e todo mundo acreditava, em que Lula era tido quase que incontestavelmente como o salvador da pátria, o Robin Hood do novo milênio. Hoje, é no mínimo curioso notar o discurso daqueles que permanecem defendendo o ex-presidente e ainda depositam nele toda a esperança de um Brasil melhor. Se, publicamente, os militantes petistas que sobraram – brasileiros que não desistem nunca da luta, que fecham os olhos, tapam os ouvidos e gritam “é tudo mentira”, “é golpe” – costumam defender ferrenhamente o seu líder, puxe uma conversa que não tenha um tom acusatório com um deles, como fez o cronista, e veja se não sai uma confissão do tipo “pois é, Lula não resistiu à tentação do capital, mas isso é culpa da cultura burguesa, ele ainda é um herói”. Para essas pessoas – quando não é a conta bancária ou algum carguinho que está comprometido –, é a própria personalidade que está integralmente comprometida: para não terem de demolir o edifício das próprias convicções e terem de se reinventar, preferem crer numa flagrante mentira.
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