Exultemos de alegria e agradeçamos a Deus por termos um coração. Esse maravilhoso complexo, principalmente muscular que, a cada duas contrações, renova e leva o sangue a todos os recantos do nosso corpo. E, isso, por cem ou mais anos de vida. O engenho está em que há sempre um intervalo entre as contrações musculares cardíacas, o que corresponde a um pequeno repouso que não chega a tolher a nossa admiração. Chamamos isso de "batimentos cardíacos", os quais podem mesmo ser constatados pelos nossos sentidos.

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Não são somente essas coisas que nos fazem admirar o nosso coração. Muitas outras se realizam, aumentando a nossa admiração, conforme tentaremos exaltar.

Minha atenção sobre o coração já foi despertada na adolescência. Estava em moda, na época, a leitura das poesias caipiras do famoso Catulo da Paixão Cearense. Num desses livros deparei com a seguinte passagem: "Um lenhadô derribava as arve sem persizão. A vó dele, já velhinha, sempe sempe lê dizia, minino tem dó das arve, que as arve têm coração". Mensagem que, mesmo em sua singeleza, contém muito valor: ecológico, respeito à vida, parcimônia.

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Não demorou muito deparei com a mais bela metáfora que é de meu conhecimento: "Não se navegam corações como os outros mares deste mundo. Vede que riqueza de imagens. De um lado, a consoladora resposta de alguém que não foi correspondido em seus amorosos intentos. De outro, a impossibilidade de modificar as virtudes do coração de alguém. Finalmente, a consideração da grandeza do coração semelhante à dos mares".

O coração como a morada da personalidade das pessoas é outra usual concepção. É por isso que houve um rei de Inglaterra que mereceu a alcunha de "Ricardo Coração de Leão".

Se vasculharmos aquilo que foi concebido na sabedoria popular veremos como foi grande a riqueza de ideias que concederam sabedoria ao humano coração. E, também, valores e significados, pois o centro e a razão de qualquer coisa é o "coração" do problema.

Caminhando mais, deparamos com o que segue. "Os pés vão onde o coração os leva". Existem pessoas que têm o "coração de pedra", são insensíveis às coisas mais pungentes, enquanto outras, "fazem das tripas coração" para suportarem o desagradável.

Tem sido muito importante e valiosa a realidade de considerar o coração um instrumento do bem, como "amar alguém com todo o seu coração"; "doar o coração à pessoa amada"; ter dor no coração ante o sofrimento alheio.

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Consideremos que, nestas linhas, estamos vendo o nosso coração apenas em seus valores sociais, mundanos, vulgares, para situar o que é dito nos termos de uma simples crônica. Muito teríamos que dizer se quiséssemos encará-lo em seus papéis históricos, heráldicos e religiosos. Teríamos, então, que escrever vários livros.

Antes de terminar interveio um interessado, formulando a seguinte questão:

– Dizei-me, prezado escritor, se considerarmos a existência humana dentro da trilogia corpo-alma-espírito onde fica esse coração que o senhor nos mostrou.

– O coração mostrado fica na alma. Alma que é Deus em nós mesmos. E, assim, tudo pode querer e fazer.

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Ruy Miranda, do Centro de Letras do Paraná