Alguém deve ter cometido um engano, pois, ao que tudo indica, no próximo domingo assumirei uma vaga na Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina. Desconfio que a indicação foi arte do meu amigo e escritor pé-vermelho Nilson Monteiro, ele mesmo um acadêmico, mas um acadêmico com méritos. Como também são plenos de mérito Clodomiro José Banwart Jr., Nelso Attilio Ubiali e Ricardo Vélez Rodríguez, autores que assumirão vagas na academia londrinense ao lado deste pobre repórter de miudezas. Tornei-me amigo do professor Ricardo recentemente e posso atestar que é um dos maiores nomes do pensamento liberal latino-americano.
Espero que na academia ninguém faça caso de minha presença ou se incomode com ela. Prometo ficar quietinho e não mexer em nada. Mas devo expressar minha gratidão ao Nilson e aos acadêmicos Leonardo Prota e Julio Ernesto Bahr. São mestres em suas áreas. Se viram alguma qualidade em mim, significa que eu não vivi assim tão à toa.
"Junte-se aos bons e serás confundido", dizia meu amigo Miranda, mestre da sinuca e da filosofia popular. Para mim, é uma honra muito grande ser incluído numa lista que não seja a dos inadimplentes. Apesar de ser um acadêmico demérito, fico feliz pela generosidade de Londrina, cidade que escolhi para ser minha há 25 anos. Não usarei fardão, apenas meu fardo. Mas aceitarei uma xícara de chá, caso me seja ofertada.
Sou homem de nenhuma ciência, escassas artes e algumas letrinhas. Em Londrina, os acadêmicos não são chamados de imortais, mas eu não recusaria o título, pelo simples fato de que somos todos imortais do mendigo da porta do banco ao presidente do banco. Se as estrelas continuam brilhando mesmo muito depois de extintas, por que seríamos diferentes? A única diferença entre nós consiste naquilo que fazemos com a nossa imortalidade.
Na manhã do dia 8, quando tomar posse na Academia de Londrina, minha mulher e meu filho estarão lá, para testemunhar a honraria. Mas sentirei falta de três pessoas: meu pai, minha mãe e a Vó Maria. Meu pai quase se tornou acadêmico em Araçatuba, sua terra escolhida (só não foi eleito porque insistiu em dividir a autoria de um livro de crônicas comigo, por modéstia, quando tinha material e talento de sobra para lançar um título sozinho). Minha mãe sonhava que eu entrasse para a Academia Brasileira de Letras (viu, mãe, estou começando pelo município). E Vó Maria, minha mãe ao dobro, que bom seria ver o sorriso de alguém que olhava para céu e via o Céu!
Na verdade, eu estou feliz por me tornar aquilo que nunca imaginei ser: um acadêmico. Mas os imortais são eles.
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