Todos nós somos corruptos. Com a exceção da Virgem Maria, quase todos os santos um dia foram pecadores. Os exemplos começam com os apóstolos, entre eles São Pedro, o primeiro papa, que negou Cristo por três vezes. São Paulo era um temido perseguidor de cristãos. Santo Agostinho levava uma vida dissoluta. Francisco de Assis era o que chamariam hoje de playboy. Em todas as biografias de santos, vemos a sua luta incessante contra seus próprios defeitos e limitações. Há também inúmeros relatos da “noite escura da alma”, quando os homens e mulheres destinados à santidade passam por crises de fé e provações violentíssimas.
Isso tudo acontece porque a corrupção -- ou pecado, como nós católicos preferimos dizer -- faz parte da própria condição humana. Não temos o pecado original: somos o pecado original.
A diferença realmente decisiva é que alguns amam a corrupção e outros tentam combatê-la
O problema não está em ter ou não corrupção, em ser ou não pecador. A diferença realmente decisiva é que alguns amam a corrupção e outros tentam combatê-la. O primeiro grupo é pequeno, mas poderoso, envolvente e ameaçador. O segundo grupo, embora constitua a maioria absoluta, acaba sendo refém daqueles que amam o próprio pecado como se ele fosse um grande mérito.
O Brasil hoje está na mãos de pessoas que podem até não ser corruptas no sentido jurídico do termo, mas amam apaixonadamente a corrupção se ela tem como resultado manter um determinado grupo político no poder. E todos nós sabemos qual é esse grupo, desde que não cultivemos o perigoso hábito de mentir a nós mesmos.
A existência de alguma corrupção dentro de nós não deve ser motivo para uma acreditarmos em uma equivalência moral de todos os indivíduos e instituições. Atravessar fora da faixa ou furar uma fila não é o mesmo que destruir um país. Se alguém ofereceu dinheiro a um policial para se livrar de uma blitz, fez alguma coisa muito feia e reprovável, mas isso não o torna membro da organização criminosa que dá as cartas no destino da nação.
Eu não me recordo de ter tentado subornar ninguém, até porque não levo o mínimo jeito para a coisa, mas devo ter furado algumas filas (por distração, porque vivo no mundo da lua) e atualmente estou com algumas parcelas de IPTU atrasadas. Nunca levantei a mão para ninguém, e raras vezes elevei o tom de voz, mas já falei algumas bobagens na internet. Isto me torna culpado de “crime de ódio”?
Eu sou corrupto, não existe a mínima dúvida. A diferença é que eu não amo a minha corrupção e o meu pecado. Quero vencê-los, com a ajuda de Deus. Este vem sendo o meu trabalho desde que me conheço por gente.