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Paulo Briguet

Gol contra

Desculpe falar no assunto, mas tenho certa obsessão pela final da Copa de 50. Não consigo deixar de pensar que, no jogo eterno das Copas, apenas 20 minutos separam o gol de Ghiggia que calou o Maracanã e o gol contra de Marcelo que calou o Itaquerão. O gol que fechou a Copa de 1950 e o gol que abriu a Copa de 2014: ambos marcados em solo brasileiro.

Ghiggia correu mais que o lateral-esquerdo Bigode e chutou no canto de Barbosa aos 34 minutos do segundo tempo. O lateral-esquerdo Marcelo mandou para dentro das redes brasileiras aos 9 minutos do primeiro tempo. São 64 anos e 1,2 mil segundos de distância.

Marcelo não teve culpa no gol, mas a tendência humana a encontrar bodes expiatórios nunca foi superada, mesmo após a Morte e Ressurreição de Jesus Cristo. Barbosa, um grande goleiro, passou o resto da vida tendo de explicar aquela suposta falha no Maracanã. E Bigode passou o resto da vida negando que tenha levado um tapa de Obdulio Varela, o capitão uruguaio. Lembro-me de uma frase de Barbosa, em documentário sobre a final de 50: "Se eu tivesse matado um homem, já teria cumprido pena e estaria livre". Mas o fato é que aquele gol o perseguiu até a morte, em 2000, na Praia Grande.

Fazer gol contra é um acidente de trabalho comum entre jogadores de defesa, embora, no futebol contemporâneo, não se possa qualificar o lateral-esquerdo exatamente como um defensor. Nas redes sociais, surgiram muitas brincadeiras com Marcelo após o lance da estreia – resultante, vale lembrar, de uma furada do jogador croata –, mas ele deve ser preservado. Tem uma Copa, talvez mais de uma, e muitas alegrias pela frente.

Alimento outras obsessões no futebol. Uma delas é a Tragédia do Sarriá, em 5 de julho de 1982, quando o Brasil perdeu para a Itália por 3 a 2. O Sarriá foi o meu Maracanazo particular. Até hoje eu sonho que o zagueiro Oscar acertou aquela cabeçada contra Dino Zoff no último minuto do jogo. E foi preciso outro Oscar, atacante, nascido nove anos depois, para virar o jogo em cima da Croácia, com as ajudas de Neymar e do juiz.

Em 1950, a escalação de Bigode como lateral-esquerdo era questionada; muitos preferiam Nilton Santos, que ficou na reserva. Oito anos depois, na Suécia, Nilton seria o único remanescente do Maracanazo a ganhar uma Copa do Mundo. Foi eternizado com o título de Enciclopédia do Futebol. Morreu em novembro do ano passado, sem poder assistir à sua segunda Copa no Brasil. Bigode morreu em julho de 2003, e sua última partida pela seleção foi a derrota para o Uruguai. Ghiggia – aquele que correu mais – está vivo.

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