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Paulo Briguet

Manifesto idiota

Desde a mais tenra infância, nós idiotas temos sido discriminados e violentados pela sociedade. Negros e brancos, ricos e pobres, cristãos e ateus, gays e héteros, coxas e atleticanos, palmeirenses e corintianos, vegetarianos e carnívoros, petistas e tucanos, maragatos e chimangos: todos eles nos rejeitam. As pessoas nunca nos oferecem uma chance, uma esperança, uma palavra de consolo.

Sim, conquistamos altos cargos na administração pública e na iniciativa privada, mas o preconceito contra a idiotia ainda é uma doença moral no país. O que antes era ódio aberto e assumido transformou-se em preconceito dissimulado, ainda mais perigoso e destrutivo.

Todos os homens nascem gênios. Mas a genialidade de nascença acaba sendo exterminada pelos padrões de inteligência da sociedade burguesa e capitalista. O imperialismo estadunidense, com sua práxis desumanizadora, reduz os idiotas a párias. Somos os grandes excluídos da civilização em todos os tempos.

Os dominadores não contavam, porém, com a união de nossa classe. O futuro nos pertence! Em todos os lugares, em todas as situações, sob as mais diferentes formas, os idiotas ocupam espaços que antes eram reservados somente aos seres humanos de inteligência normal. Saímos do armário, rompemos nossas cadeias, ganhamos a liberdade. Estamos nas ruas, nas praças, nas empresas, nos gabinetes, nos tronos, nos meios de comunicação.

O que é, afinal, a inteligência? Nada mais do que um pretexto para a dominação do homem sobre o homem! Uma ilusão que foi inculcada na mente de nossas crianças e hoje percorre o mundo como se fosse uma verdade absoluta. A idiotafobia segue sendo um dos piores flagelos que se abatem contra a humanidade. Recentemente, tivemos o caso de linchamento moral dos alunos do Enem que escreveram "trousse", "rasoavel" e "enchergar" nas suas redações e mesmo assim conseguiram nota máxima. Será que os idiotafóbicos não percebem que se trata de uma legítima expressividade de classe?

Defendemos cotas para idiotas em todas as esferas da vida pública e particular. Não apenas nas universidades, mas também nos outros níveis de ensino, os idiotas merecem ter facilidades compensatórias; facilidades que não devem se limitar ao ingresso nos cursos, mas permanecer durante toda a vida escolar do idiota aprovado, com distribuição equitativa de notas e socialização dos mecanismos avaliadores. Empresas privadas serão obrigadas a abrir suas portas para idiotas de todas as esferas e tendências, sem qualquer restrição de ordem intelectual. Famílias e igrejas também devem observar a nova lei – qualquer crime de idiotafobia será punido com prisão inafiançável.

Idiotas do mundo, uni-vos! Nada tendes a perder, exceto a vossa vergonha.

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