Existe algo em comum entre os santos: todos eles insistem na necessidade da oração constante. A santidade parece ser a arte de transformar a vida numa prece interminável. Podemos manter esse diálogo ininterrupto com Deus nas mais diversas situações – em casa, no trabalho, na rua, no telefone, na internet, na brincadeira com o filho, na conversa com os amigos, no passeio com o cachorro. Procuro rezar até nos momentos mais improváveis, mesmo quando atendo um telefonema por engano, em que a pessoa pergunta se "é da casa do Severino". O nome Severino me faz agora lembrar um poema – e por isso agradeço.

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Leio O Diário da Felicidade, do monge ortodoxo romeno Nicolae Steinhardt, e anoto uma palavra que até então eu ignorava: hesicasmo. Aprendo que hesicasmo é uma prece monástica em que se invoca sem parar o nome de Deus, mesmo silenciosamente. Quando estava preso nos cárceres comunistas da Romênia, Steihardt tornou-se um hesicasta. Seu diário é uma longa e contínua oração de graças.

Vivemos tempos sombrios, e tempos sombrios pedem oração constante. O menino de 13 anos matou a família ou houve uma armação para responsabilizá-lo? O pedreiro Amarildo foi morto pela polícia ou por um traficante? Todas as hipóteses são igualmente terríveis! Ou devemos distinguir crimes que servem e crimes que não servem?

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Um maquiador, usuário de crack e maconha, mata a facadas a própria mãe e mais três pessoas – inclusive uma criança. O que têm a dizer aqueles que defendem a liberação das drogas e o fim das internações psiquiátricas compulsórias? O assassino do cartunista Glauco ganha a liberdade por ser "inimputável". Você aceitaria ser vizinho dele?

Ainda no diário de Steinhardt, leio uma frase assustadoramente bela que o autor atribui ao pintor russo Alexei von Jawlensky: "A arte é a nostalgia de Deus". Note-se que a frase encerra uma expressiva dubiedade: ou bem a arte é a nostalgia que nós sentimos de Deus, ou bem é a nostalgia que o próprio Deus sente em relação ao universo.

Quem nega os sentidos mais profundos da oração silenciosa acabará fatalmente substituindo-a por slogans políticos que se tornam cada vez mais agressivos. Os clichês revolucionários que infestam a nossa cultura midiática passam a ser de eventuais a majoritários; de majoritários a obrigatórios; de obrigatórios a sagrados. Só uma sociedade espiritualmente doentia pode levar a sério arruaceiros financiados com dinheiro público e que se apresentam como libertadores. Contra eles, é preciso seguir o antigo conselho: "Vigiai e orai".