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Quando meu pai me chamou

Tinha eu 19 anos de idade quando meu pai me chamou. Disse sem rodeios, com os olhos vermelhos: “Filho, o Brasil não tem mais jeito. Quer um conselho? Vá embora do país”. Corria o ano de 1989, o ano da hiperinflação do Sarney. Naquele tempo, o dinheiro era como um cubo de gelo ao sol do meio-dia.

Mas eu não quis deixar o Brasil. Estava no primeiro ano de faculdade, tinha grandes sonhos. Apesar de tudo, gostava de viver na Terra de Santa Cruz. E não queria ficar longe das pessoas que amava. Tinha medo da solidão.

Fiquei. E o Brasil, contra todas as perspectivas, melhorou. Graças ao Plano Real, a inflação foi vencida. Continuávamos com sérios problemas, mas durante um tempo parecia que o Brasil tinha deixado para trás as suas piores mazelas.

Um dia mataram Celso Daniel. Fiquei extremamente abalado com o crime – e hoje entendo por quê. Aquele era o crime fundador do Brasil atual. Um Brasil que teve a sua economia, a sua cultura e os seus valores destruídos por um partido político.

Até hoje não se sabe quem matou Celso Daniel. Mas o fato é que aquele assassinato marcou a ascensão de uma era. Agora, quase 14 anos depois, estamos vivendo o declínio.

Se os nossos irmãos colombianos venceram as Farc, nós também podemos vencer a corrupção e a incompetência

Alguns anos antes daquela pergunta feita por meu pai, o professor Ricardo Vélez Rodríguez decidiu ir embora da Colômbia. Exilou-se para não morrer. Na universidade em que trabalhava, 11 pessoas já haviam sido assassinadas. “Saí para não ser o próximo.”

No Brasil, o ex-guerrilheiro trotskista conheceu o professor Antonio Paim e tornou-se um dos principais expoentes do pensamento liberal latino-americano. Hoje Ricardo mora em Londrina – onde nos brindou com uma palestra sobre a Colômbia, no dia 13.

A guerra civil na Colômbia matou quase 500 mil pessoas nos anos 80 e 90. Infelizmente, não estamos longe do número de vítimas: o Brasil tem 60 mil homicídios por ano.

No entanto, a Colômbia conseguiu vencer a guerrilha e colocar o país no rumo certo. Se os nossos irmãos colombianos venceram as Farc, nós também podemos vencer a corrupção e a incompetência!

Acredito que o PT está vivendo seus últimos dias. Por mais que os pelegos das CUTs, dos MSTs e das UNEs gritem contra 90% do povo brasileiro, a era petista chegará ao fim, de modo ordeiro e democrático, sem que seja preciso derramar uma gota de sangue ou descumprir uma lei. O trabalho do juiz Sérgio Moro e sua equipe é algo que me faz ter esperança.

Hoje meu filho tem 5 anos. Espero que um dia eu não tenha de dizer a ele, como o meu pai disse para mim, com o coração nas mãos: “Filho, o Brasil não tem mais jeito. Vá embora!”

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