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Paulo Briguet

Sonho da Disney

Pedro notou alguma coisa diferente na rotina de casa e descobriu que eu iria viajar para os Estados Unidos. Quando cheguei do trabalho, ele perguntou:

"Papai, você vai pra Disney?"

"Não, Pedro. Vou a outro lugar dos Estados Unidos."

A pergunta do Pedro me fez voltar uns 35 anos no tempo. Conhecer a Disneylândia era um sonho da minha infância que infelizmente não pôde ser realizado. E não por má vontade de meus pais: ocorre que nos anos 70 uma viagem internacional ficava acima das possibilidades financeiras de um bancário e uma professora. Além do alto preço das passagens aéreas e demais gastos da viagem, havia um famigerado depósito exigido pelo governo, o que impedia qualquer devaneio em torno do assunto. Tive de me consolar assistindo ao Clube do Mickey, do qual me tornei sócio com carteirinha e tudo.

Os Estados Unidos da América sempre tiveram uma presença forte na minha vida. Nunca pensei em mudar para lá – sou um caipira pé-vermelho irremediável –, mas sempre admirei a cultura, a literatura, a música, o cinema e a história americana. O espírito democrático e libertário dos pais fundadores poderia ensinar muito ao Brasil, mas infelizmente preferimos ignorá-lo.

Minha admiração pelos EUA não me impede de fazer críticas ao país. O egoísmo exacerbado, a liberação do aborto e o hedonismo materialista são males morais que afetam a civilização em todo o planeta – e maculam severamente a sociedade americana.

Contudo, percebo que os EUA são odiados por suas virtudes, não por seus defeitos. Fruto da inveja e da ignorância, o antiamericanismo está entre os piores vícios brasileiros. Hoje em dia, quando alguém utiliza o termo "estadunidense" para se referir aos EUA, perco imediatamente o interesse pelo que a pessoa está dizendo. Em outra época de militância, usava-se "imperialista", conceito igualmente vazio e tolo, tão vazio e tão tolo quando berrar yankee go home. Todo esse preconceito contra os americanos só causou retrocesso e equívoco em nosso país. Graças a Deus, curei-me desse mal.

E me curei aprendendo a admirar os grandes americanos na prosa (Melville, Twain, Poe, Fitzgerald, Hemingway, Miller, Malamud, Bellow, Roth, Updike), na poesia (Whitman, Dickinson, Frost, Stevens e o anglicizado Eliot, meu poeta preferido), na música (Gershwin, Porter, Berlin, Ellington, Gillespie, Ella, Dylan), no cinema (Woody Allen, Huston, Spielberg) e na política (Lincoln, Franklin, Reagan). Abençoada terra!

Sim, Pedro. Um dia nós iremos à Disney. E será um sonho.

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