Foram anos de preparo até que o primeiro atleta pudesse entrar, neste fim de semana, nas instalações erguidas para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Serão 16 dias para que o país encontre o legado simbólico de receber o maior evento esportivo do mundo e supere o trauma inicial de ver desnudado o contraste entre o show multimilionário e a realidade dura de uma nação em desenvolvimento.
Esse contraste ganhou o mundo quando colocado sob o holofote da mídia internacional, que não poupou espaço e palavras para descrever falhas, erros e riscos envolvidos com a organização do evento.
Os ajustes nas vésperas da cerimônia de abertura não são uma exclusividade brasileira, mas a corrida para finalizar os apartamentos da Vila Olímpica criou um embaraço inédito. O Brasil já vinha sofrendo com o medo de contaminação por zika e o risco não desprezível para a segurança de quem viaja ao Rio de Janeiro nos dias de provas. O “jeitinho brasileiro” e a mania nacional de deixar tudo para a última hora não combinaram com a precisão cronometrada e a preparação exaustiva que são sinônimos do esporte de alto nível.
Valorizar o trabalho duro, o talento, o patriotismo, o mérito e o jogo justo é um bom começo não só para quem quer se destacar no esporte.
Imerso na maior recessão de sua história e ainda assistindo aos desdobramentos de um escândalo de corrupção que paralisou a vida política nacional, o Brasil pode ter perdido a ilusão do discurso recorrente em 2009, quando o Rio de Janeiro foi escolhido como sede da Olimpíada de 2016. O país certamente não terá como legado um passaporte carimbado para o time dos países ricos, nem é considerado no cenário global uma potência maior por receber os Jogos – como celebrou o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cerimônia em que foi escolhida a cidade-sede. O Rio de Janeiro, por sua vez, não ficará livre dos problemas que acometem todas as cidades brasileiras somente por abrigar as estruturas construídas para os atletas.
Restou um outro campo, o simbólico, em que o legado olímpico ainda pode ser erguido. A Olimpíada é uma chance para o Brasil ter uma aula com o esporte. Abertas as competições, o conselho mais apropriado é que se observe com atenção o esforço de todos os atletas e se aprenda com ele. Medalhas são um reconhecimento de mérito e demoram para chegar. Para a maioria dos competidores, elas nunca chegam – e eles, mesmo quando perdem, saem maiores do que eram quando entraram em campo.
O país precisa aproveitar o clima olímpico para fazer uma reflexão verdadeira sobre o que quer se tornar. Valorizar o trabalho duro, o talento, o patriotismo, o mérito e o jogo justo é um bom começo não só para quem quer se destacar no esporte. Vale para a economia, para a política e para a vida privada de cada um.
O Brasil tem entre seus representantes nos Jogos pessoas que são exemplos desses valores. Torcer por elas, admirá-las e tirar proveito de suas histórias vai ajudar na construção de um país melhor, com mais riqueza e oportunidades para seus cidadãos. Vista da maneira certa, a Olimpíada no Rio será mais do que uma competição.
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