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Como todos temiam, o Centro Cívico virou uma praça de guerra na tarde de quarta-feira, dia 29, enquanto a Assembleia Legislativa votava o projeto de reforma da Paranaprevidência. Professores e outros servidores públicos entraram em novo conflito com a Polícia Militar, que desta vez recorreu também a balas de borracha, e estimativas do início da noite de quarta indicavam cerca de 200 feridos. O breve confronto de terça-feira, assim, foi uma espécie de prelúdio da vergonha levada a cabo nas proximidades da Alep e do Palácio Iguaçu.

Por mais que, como mostramos no editorial desta quarta-feira, seja profundamente antidemocrática a atitude dos sindicalistas quando se mostram dispostos a fazer o que for possível para impedir uma sessão do Legislativo estadual, é preciso, sim, mostrar a responsabilidade do governo de Beto Richa neste episódio. Infelizmente, o Executivo estadual não soube conduzir com a inteligência necessária uma situação que, desde o início, mostrava potencial para escapar do controle. À atitude de um grupo que vinha disposto ao embate, o Executivo estadual respondeu, inicialmente, com a teimosia de quem buscava ver o projeto aprovado o quanto antes, quando o momento pedia mais debate e um esforço eficaz de comunicação. Foi essa mesma teimosia que, em fevereiro, gerou o antológico episódio em que deputados foram transportados para dentro da Assembleia Legislativa dentro de um camburão. Esperava-se que aquela lição tivesse sido aprendida, mas parece-nos que o governo a ignorou.

A força policial se comportou como se estivesse em uma batalha na qual o exército vencedor avança contra o inimigo em fuga para garantir sua aniquilação

Assim foi construído o caldo de tensão que desembocou no confronto de quarta-feira. Mesmo que seja verdadeira a versão de que foram os professores a iniciar as hostilidades ao tentar derrubar uma grade, a reação da Polícia Militar mostrou-se claramente desproporcional. Se o objetivo do governo, ao colocar centenas de policiais isolando o Centro Cívico, era o de impedir a invasão da Assembleia Legislativa aos moldes do ocorrido em fevereiro, este objetivo estava sendo cumprido satisfatoriamente. A polícia deveria estar preparada para lidar com episódios pontuais de forma cirúrgica, mas o que ocorreu foi a generalização do conflito. Para piorar a situação, há registros de que a PM, em vez de se limitar a garantir que a Assembleia não fosse invadida, avançou sobre manifestantes que já estavam se dispersando, com os efeitos de sua ação sendo sentidos até em uma escola infantil das redondezas. A força policial se comportou como se estivesse em uma batalha na qual o exército vencedor avança contra o inimigo em fuga para garantir sua aniquilação, quando deveria primar pela segurança de todos e pela manutenção da ordem nas cercanias da Assembleia Legislativa.

Por fim, continuaram errando os deputados em sessão quando mantiveram os debates sobre o projeto da Paranaprevidência apesar de haver uma batalha campal do lado de fora da Assembleia. Faltou sensibilidade para perceber a gravidade do momento. Pode até haver quem argumentasse que suspender a sessão significaria fazer o jogo dos sindicatos, que desejavam impedir a apreciação do projeto de lei. Mas já não era este o caso. A circunstância era extraordinária. Não havia a menor condição de seguir trabalhando normalmente enquanto dezenas de pessoas eram feridas do lado de fora, em um evento diretamente ligado ao que se desenrolava no plenário da Alep. A atitude mais sábia seria a de suspender a sessão e retomar o diálogo com a sociedade a respeito do projeto, mas ao mesmo tempo deixando claro que nenhum tipo de golpismo seria tolerado. Como dissemos na quarta-feira, o uso da força para impedir o funcionamento das instituições democráticas não pode ser tolerado, e o poder público não pode compactuar com agressões à democracia.

Por mais que os sindicatos tenham demonstrado suas intenções antidemocráticas em várias ocasiões, fica evidente que o governo estadual teve oportunidades de evitar os tristes episódios desta quarta-feira no Centro Cívico. Ao insistir em levar adiante o projeto da Paranaprevidência apesar de todas as indicações de que tudo se encaminhava para o conflito aberto, ao permitir a truculência policial completamente desproporcional à ameaça apresentada pelos manifestantes, e ao não usar sua influência entre os deputados para suspender a sessão depois que a batalha campal já tinha deixado um saldo de muitos feridos, o governo se torna responsável por uma mancha na história paranaense, cuja superação exigirá muito esforço do Executivo.

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