Os dados da indústria divulgados na terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) são alarmantes. A produção industrial caiu 3,2% em relação a junho de 2014. Neste tipo de comparação (de um mês contra o mesmo mês do ano anterior), é a 16.ª vez consecutiva que se registra queda. O cenário não fica melhor em nenhuma das outras comparações: houve queda de 0,3% entre maio e junho; no acumulado de 2015, a retração foi de 6,3%; no acumulado dos últimos 12 meses, queda de 5%. Se considerarmos o segundo trimestre deste ano, a produção caiu 0,4% na comparação com o trimestre anterior, e 6,7% em relação ao mesmo período de 2014.

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Nem mesmo o protecionismo exacerbado está ajudando a indústria nacional

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Nem mesmo o dólar em alta, que facilitaria as exportações, ajudou a indústria brasileira em junho. Isso porque de janeiro a julho de 2015, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, os manufaturados respondem apenas por pouco mais de um terço do volume em dólares exportado pelo país – e, ainda assim, são poucas as indústrias que exportam, dentro do total de empresas brasileiras. As demais seguem estranguladas, seja porque o real desvalorizado torna mais cara a importação de matérias-primas e outros insumos, seja porque os brasileiros, com a corda no pescoço, estão consumindo menos, seja por causa dos já conhecidíssimos problemas que afetam todo o setor produtivo nacional: carga tributária escorchante, infraestrutura precária, intervencionismo estatal excessivo, baixa produtividade e, mais recentemente, a disparada em preços controlados, como os da energia elétrica.

As duas quedas mais significativas entre maio e junho de 2015, segundo o IBGE, foram verificadas nos setores de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-12,7%) e de máquinas e equipamentos (-7,2%). Se pensarmos nas políticas de exigência de conteúdo nacional tão ao gosto do atual governo, e na recusa brasileira de aderir ao primeiro grande acordo mundial para redução de tarifas no setor de tecnologia, é fácil concluir que nem mesmo o protecionismo exacerbado está ajudando a indústria nacional.

Setores de esquerda, contrários ao ajuste fiscal do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, certamente aproveitarão os dados para culpar o próprio ajuste pelo baque da indústria e pelas demissões no setor. Uma breve olhada nos números, no entanto, já ajudará a desmentir a retórica: não apenas a indústria, mas o país como um todo já estava parando pelo menos desde 2014. Como lembramos logo acima, já são 16 meses seguidos em que a produção industrial cai na comparação com o mesmo período do ano anterior – ou seja, dez meses de Guido Mantega e apenas seis de Levy. A produção já havia caído em 2014: retração de 3,1% após registrar expansão em 2013. Aliás, no mesmo dia em que o IBGE divulgava seus dados da indústria, o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace) da Fundação Getulio Vargas atestava que o país está em recessão desde o segundo trimestre de 2014. Trocar o ajuste fiscal pela retomada da “nova matriz econômica” só resultará em mais desastre para a indústria.

A Confederação Nacional da Indústria também divulgou dados preocupantes. O emprego na indústria está no nível mais baixo desde dezembro de 2009; as horas trabalhadas, em junho de 2015, caíram 5,3% na comparação com junho de 2014. O único dado aparentemente positivo, o aumento da massa salarial (0,8%, na comparação com maio), na verdade é consequência de dois fatores: um deles é o depósito da primeira parcela do 13.º salário, mas o outro é o pagamento de rescisões contratuais, ou seja, resultado das demissões do setor. Diante de tantos números negativos para uma área tão importante da economia brasileira, chega a ser inacreditável que ainda haja quem ironize as afirmações de que o país passa por uma crise ou uma recessão.