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Editorial

O Paraná em pessoa

Chega de saudade. Chega de dizer que no passado, sim, é que era bom. Que "naquele tempo" a po­­pulação ia às ruas protestar contra a alta do pão e do leite, que fazia passeata pela democratização do país, que não se calava diante dos desmandos, mesmo sob risco de tortura.

Como cantaram um dia milhares de brasileiros, "quem sabe faz a hora..." E a hora é hoje, às 18 horas, na Boca Mal­­­­dita, onde moradores de Curitiba e região metropolitana vão se reunir num ato cívico, pedindo a moralização política da Assembleia Legislativa do Paraná. É importante que você esteja lá. Ou numa das outras doze ci­­dades paranaenses que se unirão ao movimento: Lon­­drina, Pon­­ta Grossa, Foz do Iguaçu, Maringá, Cascavel, Gua­­ra­­puava, Marechal Cândido Rondon, Pato Branco, Para­­navaí, Pa­­ranaguá, Campo Mourão e Umuarama.

Não se trata de um gesto à moda antiga, da repetição de um modelo desafinado com o século 21. Pelo contrário. Ir à Boca Maldita – como tantos dos nossos tantas vezes fizeram – res­­­­ponde ao espírito do tempo. Esta até pode ser a era das re­­des sociais na in­­ter­­net e do indi­­vi­­dua­­lis­­mo, mas é também a épo­­­­ca em que se pediu, nos quatro cantos do planeta, a liberdade em Mianmar, a independência do Tibete, a redemocratização de Cuba e do Irã.

Choramos em praça pública a morte de Ayrton Senna, da princesa Diana, do Papa João Paulo II. Ajuda­­mos a re­­construir Santa Catarina e perdemos horas de sono pelo Haiti. Que não nos chamem de passivos e in­­sen­­síveis, por­­que não o somos. A velocidade com que cor­­rem as ci­­dades não nos roubou a humanidade e a indignação. Em absoluto: velozes nos organizamos pelo mundo melhor, seja num grupo de e-mails ou em pé, no Calçadão da Rua XV, aquele pela qual nos tornamos conhecidos em todo o país: ali fizemos de uma via de carros nosso espaço pú­­blico por excelência. Que não a deixemos vazia esta noite.

As mais de 23 mil adesões de pessoas físicas, empresas e entidades ao movimento "O Paraná Que Queremos" servem de prova de que esses tempos difíceis, nos quais ainda grassa a pobreza e cresce em demasia a violência, podem ser reinventados. E nenhuma invenção desse porte é solitária. Faz-se o novo em companhia do outro, somando forças, discutindo ideias, empenhando compromissos, não deixando se perder o essencial.

Os paranaenses de 2010 estão dizendo, a cada nova assinatura no manifesto, que creem na ética na política e que permanecem as­­sociativos e empreendedores, como o foram os antepassados. Não fôssemos uma gente de braço dado, não teríamos construído um dos estados mais ricos da Nação, território de cidades que se destacam no urbanismo, na cultura, na tecnologia e na economia de ponta.

Um bocado dessas conquistas está ameaçado pela corrupção denunciada na série de reportagens "Diários Se­­cretos", publicada ao longo dos últimos três meses pelo jornal Gazeta do Povo e pela RPCTV. Calcula-se que cer­­ca de R$ 100 milhões foram desviados dos cofres públicos, empobrecendo o estado, mas principalmente o desmoralizando e ferindo a estima de sua gente.

Que a ofensa não vire lamúria vazia. Não é do nosso feitio. Puxemos pela memória o janeiro de 1984, quando inauguramos por aqui o movimento Diretas Já, na mesma Boca Maldita. O país nos seguiu. Estamos para a His­­tória como o palco pioneiro em que se anunciou o Brasil pós-ditadura. Que os outros nos sigam outra vez. E que saibam o que fizemos no 8 de junho de 2010, um dia em que nem as temperaturas baixas e a noite funda nos fizeram esmorecer.

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