Continua a polêmica sobre a decisão do Reino Unido de se retirar da União Europeia, aprovada por estreita margem em votação popular. O Reino Unido – formado por Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte – faz parte (por enquanto) da União Europeia (UE), que congrega 28 países, mas, ao lado de nove outras nações, não adotou o euro como moeda. A maior polêmica sobre a decisão de deixar o bloco está ligada ao fato de que a União Europeia tem como objetivo ampla cooperação econômica e política como meio de convivência pacífica entre países com histórico de conflitos sanguinários, entre os quais as duas grandes guerras mundiais.

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Deixando de lado os argumentos usados sobretudo pelos ingleses – pois a maioria dos escoceses e norte-irlandeses votou pela permanência – para sair da UE, há vários desdobramentos no campo da economia que terão efeitos sobre o Brasil e que devem ser tratados já, em face das decisões que terão de ser tomadas na política externa brasileira. De início, o Reino Unido tem grande volume de comércio bilateral com os países da UE, nos termos dos acordos feitos no interior do bloco, cujas bases passarão por alterações, principalmente no tocante às regras de tributação e barreiras não tarifárias.

Caberá ao Brasil saber aproveitar as oportunidades que surgirão

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A Inglaterra, maior país do Reino Unido, mantém expressivo comércio exterior com os membros da UE e, após concretizada a separação, as alíquotas tributárias sobre as importações e as exportações de bens e serviços realizadas nos dois sentidos deverão passar por modificações e terão efeitos sobre os preços dos produtos comercializados. Nesse cenário, o Brasil poderá ser beneficiado, pois eventual elevação dos preços no novo comércio exterior que se configurará naquela região levará o Reino Unido a buscar novos fornecedores em outras regiões do mundo, abrindo espaço para o Brasil firmar acordos comerciais e conquistar mercados.

Outro ponto refere-se aos investimentos de empresas do Reino Unido fora de suas fronteiras geográficas. Se os novos acordos firmados pelo Reino Unido com os países-membros da UE criarem obstáculos principalmente para investimentos ingleses na UE, os investidores serão estimulados a buscar outros lugares para aplicar seu capital. O Brasil pode se tornar forte candidato com potencial para receber capitais de investimento direto (criação ou expansão de empresas em território brasileiro), a depender da capacidade do país de sair da recessão, reorganizar sua economia, resolver a questão do impeachment e a crise jurídico-moral estampada pela Lava Jato e outras operações similares, elementos necessários para a recuperação da confiança internacional no Brasil.

Quanto aos países da UE, embora seja difícil prever os rumos do comércio exterior de seus países-membros em relação ao Reino Unido, parece não haver dúvidas de que as regras de comércio e de investimento estrangeiro terão de ser revistas. Se houver elevação das restrições contra os produtos do Reino Unido, o Brasil terá a oportunidade de olhar os 27 países que permanecerão na UE como alvo para alavancar seus negócios naquela região.

Não há clareza do que farão os governos dos países do Reino Unido quanto à permissão para entrada de trabalhadores estrangeiros e à política de imigração. Mesmo que as restrições não sejam agravadas de forma radical, é certo que algumas regras serão endurecidas para quem já está no país e para quem pretenda trabalhar ou emigrar para o Reino Unido. Por enquanto, há muitas dúvidas em relação ao tipo de desdobramento resultante da separação, mas mudanças obviamente ocorrerão. Caberá ao Brasil saber aproveitar as oportunidades que surgirão.

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