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editorial

O futuro do Brasil em jogo

O petismo, nas últimas semanas, tentou desesperadamente frear a marcha do impeachment. No front político, colocou o governo à venda, oferecendo ministérios e cargos de escalões superiores a qualquer deputado que se comprometa a votar em favor de Dilma ou simplesmente se ausente da sessão decisiva; no front social, pôs os “movimentos sociais” para ameaçar o caos nas ruas se Dilma for derrotada (na sexta-feira, eles já interditaram diversas rodovias); e, no front da linguagem, abandonou o simplório slogan “impeachment é golpe” para refinar um pouco a argumentação, alegando que “impeachment sem crime de responsabilidade é golpe”, com a mensagem implícita de que Dilma não teria cometido tal crime. Pois este domingo é o dia em que o Brasil, por meio de seus representantes eleitos, pode dar a resposta adequada.

Em primeiro lugar, porque, como mostramos em nosso editorial desta sexta-feira, os crimes de responsabilidade cometidos por Dilma Rousseff, com suas maquiagens orçamentárias que extrapolaram qualquer limite, são evidentes. É por eles que a presidente será julgada. A manipulação das contas públicas é a demonstração cabal de descaso pelos recursos tirados do contribuinte por meio dos impostos, e não é à toa que o legislador a considerou grave o suficiente para caracterizá-la como infração merecedora do impeachment. É verdade que “impeachment sem crime de responsabilidade é golpe”, mas é igualmente verdadeiro que, no caso em questão, não há golpe nenhum em curso. Os fundamentos jurídicos do pedido assinado por Hélio Bicudo, Janaina Paschoal e Miguel Reale Jr. são irrefutáveis e a evidência é avassaladora.

A votação deste domingo não será a definitiva, mas é decisiva

Em segundo lugar, porque, ao não esboçar a mínima repreensão quando líderes como Vagner Freitas (da CUT) e Aristides Santos (da Contag) falam – em pleno Palácio do Planalto! – em “armas na mão” e em “ocupar gabinetes” de deputados, Dilma mostra que consente com o uso dos “movimentos sociais” – que são, na verdade, entidades-satélites do petismo – e com sua retórica violenta, demonstrando o desapreço do petismo pelas instituições. É isso que faz Lula afirmar que, caso Dilma perca na Câmara e seja eventualmente afastada pelo Senado, não sairá mais das ruas contra o que chama de “governo ilegítimo”. O Brasil não pode se intimidar, não pode deixar de fazer a coisa certa por causa de ameaças e bravatas de quem só dá valor às instituições quando elas estão a serviço de um partido político.

E isso nos leva ao terceiro ponto: a derrota do impeachment neste domingo será a confirmação de um modo abjeto de fazer política, em que mandatários e parlamentares enxergam cargos e órgãos públicos como propriedade particular. Se o feirão organizado por Dilma se tornar o fator decisivo para que a votação deste domingo termine em favor da presidente, a esperança de uma moralização da política sofrerá um enorme abalo. Se a impunidade prevalecer, os deputados estarão dizendo ao Brasil que o crime compensa – basta comprar as pessoas certas, ou se vender às pessoas certas, contando que a memória curta do brasileiro lhes garantirá uma “absolvição” nas urnas, seja em outubro próximo, quando vários parlamentares tentarão se tornar prefeitos, seja em 2018, quando eles tentarão a reeleição ou outros cargos.

A votação deste domingo não será a definitiva – ainda que prevaleça o impeachment, será preciso que o Senado promova o julgamento –, mas é decisiva, porque será um indicativo de nosso grau de tolerância. Sabemos que muitos votarão pelo impeachment guiados mais por conveniência que por convicção. Sabemos que o Congresso é comandado por duas figuras indignas até mesmo de exercer mandato, quanto mais de presidir casas legislativas. Mas, se temos de um lado da balança um impeachment justo conduzido por maus políticos, do outro a alternativa é aceitar o estabelecimento da corrupção sistemática dentro do governo, premiar o toma-lá-dá-cá, fechar de vez os olhos à manipulação das contas públicas, resignar-se à condição de reféns das ameaças de CUT e MST. Isso não podemos tolerar de forma alguma.

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