| Foto: Pedro França/Agência Senado

Citado em pelo menos duas delações da Lava Jato, numa delas sob a alcunha de “Índio”, o senador Eunício Oliveira, do PMDB cearense, é por enquanto o candidato mais próximo de vir a ocupar a cadeira de presidente do Senado. Se tudo der certo, substituirá “Justiça”, apelido pomposo com que Renan Calheiros era identificado na mesma lista de beneficiários de recursos liberados pelo “Setor de Operações Estruturadas” da empreiteira Odebrecht.

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“Índio” não mede esforços para chegar à posição. Conta com o apoio do próprio “Justiça” e da bancada do PSDB, ao mesmo tempo em que busca votos também entre os senadores do PT e legendas menores. Embora dentro de seu próprio partido encontre resistências – como a do senador paranaense Roberto Requião –, não esmorece na tentativa de garantir maioria antes mesmo da eleição, marcada para 2 de fevereiro. Negocia antecipadamente a distribuição dos outros dez cargos da Mesa Diretora, de tal forma que poderia chegar ao nirvana de não ter adversários na concorrência.

De novo, assim como se dá no processo eleitoral para a renovação do comando da Câmara dos Deputados, repete-se no Senado Federal a política fisiológica que assegure a manutenção do mesmo baixo perfil moral dos políticos que há décadas detêm o poder. Não se reconhece em Eunício Oliveira qualidades das quais possam se orgulhar os brasileiros preocupados com a regeneração do país.

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Há nada ou muito pouco a se esperar da quase certa ascensão do senador Eunício Oliveira

A preferência por seu nome parece crescente e dela participa até mesmo o ex-presidente Lula. Pragmático e amoral, tenta induzir a bancada do PT a votar em “Índio” porque, segundo ele, seria esta uma fórmula eficaz para garantir a senadores petistas lugares na Mesa e a presidência de pelo menos duas comissões temáticas do Senado. Na sua visão, esta é uma maneira para manter a legenda com o nariz acima d’água em meio aos mares tormentosos que ameaçam o seu esfacelamento desde a Lava Jato e o impeachment de Dilma Rousseff.

A consistência política gelatinosa dos atores que definem o comando futuro do Congresso está na raiz do processo. Para eles, tudo indica, mais importante é manter posições e facilidades político-pessoais do que cumprir o papel constitucional de que foram incumbidos pelos eleitores – isto é, de honrar as instituições republicanas a que pertencem e de contribuir decisivamente para o bem comum.

Reformas? Sim, até poderão votá-las, mas sob condições. Uma delas, a de que não venham para fazê-los perder votos nos currais. Ou que não cortem privilégios de algumas camadas que se sentem protegidos pelo statu quo, ainda que, à falta histórica de medidas para conter a sangria provocada pelas distorções, o país continue a sofrer indefinidamente com os males da recessão, do desequilíbrio fiscal, do desemprego, da ausência ou da má qualidade dos serviços de responsabilidade do Estado, como educação, saúde e segurança.

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Há nada ou muito pouco a se esperar da quase certa ascensão do senador Eunício Oliveira quando se compara sua história de “serviços prestados” à nação com os antecedentes dos que o apoiam ou que historicamente comandam o Congresso. Não lhe fazem inveja parlamentares como o ex-deputado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (atualmente preso em Piraquara) ou o senador Renan Calheiros, duas vezes réu no STF e impedido de figurar na hierarquia sucessória da Presidência. Ou, muito menos, o senador Romero Jucá, o “Caju”, que era a primeira aposta de “Justiça” para sucedê-lo.

O clima é de tristeza. A constatação de quão pobres são as perspectivas para a moralização e fortalecimento das instituições nacionais é fator de desesperança, que só mesmo uma reforma política decente, capaz de extirpar ou maus e abrir oportunidades à participação dos bons, pode resolver. Mas a quem compete fazer a reforma senão aos próprios políticos enredados nos mesmos esquemas fisiológicos, corporativistas e corruptos?