Não adiantaram todos os esforços do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que ofereceu inclusive uma carta garantindo a ajuda do governo brasileiro à Petrobras se fosse preciso: a estatal acabou rebaixada pela agência de classificação de risco Moody’s na terça-feira (24), e perdeu o grau de investimento. O impacto de uma decisão como esta é grande: muitos fundos têm por regra aplicar dinheiro apenas em empresas ou países que sejam considerados seguros pelas agências. Consequentemente, esses investidores são obrigados a se desfazer de ações ou títulos que agora são classificados como “grau especulativo”. Apesar de as outras duas grandes agências – Standard and Poor’s e Fitch – não terem rebaixado a Petrobras (ainda), as ações da empresa já sofreram consideravelmente no pregão de quarta-feira (25).
Os motivos alegados pela Moody’s não são nenhuma surpresa. A falta de um balanço confiável e as consequências da Operação Lava Jato estão demolindo a credibilidade da Petrobras, a companhia não financeira mais endividada do mundo e cujo ambicioso plano de investimentos parece longe de ser factível, dada a situação financeira da estatal – que agora, sem o grau de investimento, terá mais dificuldade em captar recursos e será obrigada a pagar maiores juros no mercado.
Durante o “ato em defesa da Petrobras”, os verdadeiros predadores da petrolífera foram poupados, enquanto se atacavam os “suspeitos de sempre” da retórica lulopetista
Mas qualquer brasileiro que deseje entender como a Petrobras chegou a esse ponto não precisa ler as justificativas da Moody’s: basta olhar para o que ocorreu também na tarde de terça-feira no Rio de Janeiro, quase simultaneamente ao anúncio do rebaixamento da empresa. Na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), petroleiros, figurões petistas e representantes de movimentos alinhados ao petismo, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o Movimento dos Sem-Terra (MST) e a União Nacional dos Estudantes (UNE), se reuniram para um autodenominado “ato em defesa da Petrobras”.
A julgar pelo que se disse lá, mais apropriado seria chamar o evento de “ato em defesa da Petrobras a serviço dos companheiros”. Afinal, os verdadeiros predadores da petrolífera foram poupados, enquanto se atacavam os “suspeitos de sempre” da retórica lulopetista: a imprensa e a oposição, que seriam responsáveis por uma campanha contra a empresa para desmoralizá-la – buscando, sempre, criar condições para uma suposta privatização no futuro. Também sobraram críticas ao juiz Sérgio Moro e à Operação Lava Jato, justamente os que estão se empenhando em limpar a Petrobras. O presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB fluminense, Wadih Damous, chamou a delação premiada de “estratégia do medo e da intimidação” e a comparou à tortura.
Lula também falou, e encerrou seu discurso com as seguintes palavras: “Eu quero paz e democracia, mas, se eles não querem, nós sabemos brigar também. Sobretudo quando o João Pedro Stédile colocar o exército dele do nosso lado”, em referência ao líder sem-terra que também estava no palco com o ex-presidente. Uma reedição do “eles têm de apanhar na rua e nas urnas” dito em 2000 por José Dirceu a professores paulistas em greve. Também na noite de terça-feira, comentando o lamentável episódio em que o ex-ministro Guido Mantega foi hostilizado no hospital Albert Einstein, em São Paulo, o presidente do PT fluminense, Washington Quaquá, foi enfático no Facebook: “Contra o fascismo, a porrada!”
Na frente do prédio da ABI, dezenas de militantes petistas nem precisaram esperar o recado de Lula para agredir com ovos, socos e pontapés pouco mais de uma dúzia de manifestantes (incluindo funcionários da Petrobras) que foram criticar a roubalheira. Sobrou até mesmo para transeuntes que passavam pelo local e, presenciando a confusão, também se manifestaram contra o governo. Observando a foto que já se tornou icônica, em que militantes de vermelho acertam um chute em um manifestante, qualquer um pode concluir quem está verdadeiramente defendendo a Petrobras e quem está defendendo seus próprios interesses e privilégios.