Iniciada por Dilma Rousseff, a agenda de privatizações da União deve ganhar um ritmo mais forte a partir das próximas semanas. A desestatização da economia inclui a venda de ativos da Petrobras e da Eletrobrás, alienação de bens da União e a concessão de projetos de infraestrutura. Importante para a recuperação da capacidade de investimento no país e para a recuperação das contas públicas, esse processo é também uma oportunidade para o brasileiro rever seu conceito sobre o papel do Estado.

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O governo interino de Michel Temer, ao acelerar as privatizações, vai contra a opinião dominante dos brasileiros. Levantamento recente mostra que 60% das pessoas são contra a venda de empresas estatais. A oposição pode ganhar mais força conforme o processo incomodar as entidades que se sentem mais afetadas, como sindicatos e partidos de esquerda. Um primeiro exemplo é a greve prometida pelo sindicato dos trabalhadores da BR Distribuidora, marcada para começar nesta segunda-feira (15), com apoio de outras categorias ligadas ao setor petrolífero.

Caberá ao governo Temer dar transparência a qualquer negócio que for feito com a iniciativa privada

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A contrariedade com a desestatização está calcada em uma visão ultrapassada de Estado. A crença de que o caminho para o desenvolvimento é a intervenção direta do governo na economia se mostrou errada. No Brasil, a aplicação prática desse mantra, com o agravante da corrupção, provocou diversos problemas. A Petrobras se tornou a petroleira mais endividada do mundo, a Eletrobrás ficou cronicamente deficitária e diversas estruturas, como os aeroportos administrados pela Infraero, têm eficiência muito menor do que a necessária.

Caberá ao governo Temer dar transparência a qualquer negócio que for feito com a iniciativa privada. Ele também terá de comunicar bem as razões de cada venda e mostrar como o Estado brasileiro se preparou para regular a atividade empresarial. Faz parte desse processo obter o aval dos órgãos de fiscalização, como o Tribunal de Contas da União, e restabelecer o bom funcionamento das agências reguladoras – um braço do governo que havia perdido força nos últimos anos.

Há boas justificativas, por enquanto, para a lista prévia de desestatizações apresentada em entrevistas da equipe de governo. A Petrobras, por exemplo, está em uma situação financeira delicada e precisa se desfazer de ativos para reduzir seu endividamento. Ela vendeu recentemente sua participação em um bloco de exploração do pré-sal e seu negócio na área de gás. Agora, tem propostas para abrir mão da BR Distribuidora. Ao mesmo tempo, a empresa tem conseguido recuperar a rentabilidade, o que já fez com que a percepção do mercado sobre a companhia melhorasse.

Na área de aeroportos, não há a possibilidade de haver investimentos novos se o modelo de concessões continuar contando com a participação da Infraero. A estatal não tem recursos e não pode contar com aportes da União para entrar como sócia dos consórcios nos próximos terminais a serem leiloados. Nesse caso, é melhor haver um contrato exigente, com fiscalização rigorosa, do que insistir no modelo estatizante.

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Ao garantir que vai levar adiante as privatizações, Temer abre um caminho para que os investimentos voltem a crescer. Ele terá de vencer o discurso de que essa é a “entrega” do país ao capital internacional e, ao mesmo tempo, mostrar ao mundo que o momento mudou: o Brasil tem a chance de ficar mais aberto, com respeito a regras claras e um melhor ambiente de negócios. Essas são as condições para o crescimento.