Exatamente como ocorreu quatro anos atrás, o prefeito que buscava a reeleição em Curitiba está fora do segundo turno, derrotado pelo candidato que vinha em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto até o último momento. Gustavo Fruet, do PDT, foi ultrapassado pelo deputado estadual Ney Leprevost (PSD), que disputará o comando do Executivo municipal contra o ex-prefeito Rafael Greca (PMN). Greca tinha concorrido em 2012 pelo PMDB, com o apoio do senador e ex-governador Roberto Requião; na ocasião, fez 10% dos votos, tendo quase quadruplicado sua votação em um intervalo de quatro anos; já o atual prefeito não conseguiu nem mesmo repetir o desempenho que havia conseguido no primeiro turno de 2012. O que houve nesse intervalo?
No plano administrativo, não se pode negar que Gustavo Fruet fez um bom mandato. A cidade de Curitiba não enfrentou os mesmos problemas de caixa que afligiram os governos de Dilma Rousseff e Beto Richa. Fruet não teve contra si nenhum escândalo de corrupção como os que colocaram a população contra o PT, nem cometeu irregularidades como as que levaram ao impeachment da ex-presidente, nem teve um episódio conduzido desastrosamente, como foi o 29 de abril no caso do governador. Se houve alguma polêmica, ela veio apenas nos últimos dias, quando guardas municipais ligados à campanha de Fruet foram flagrados perto da residência de Greca – acusado, por sua vez, de se apossar de objetos da Casa Klemtz. E mesmo a adesão de Fruet a uma carta de prefeitos contrários ao impeachment de Dilma, divulgada em dezembro do ano passado, parece ter tido efeito apenas marginal no resultado deste domingo.
O saudosismo cativou os eleitores
Mas, por mais positivo que seja este balanço, não basta que uma gestão se destaque por ter evitado desastres financeiros ou escândalos de corrupção: era preciso apresentar um projeto de cidade, especialmente em uma capital famosa pela inovação urbanística que fez dela um caso estudado mundialmente. O prefeito não foi capaz de apresentar tal projeto; e as principais mudanças ocorridas em termos de urbanismo – especialmente a redução de velocidade para veículos na área central e nas Vias Calmas, e a extensão da rede de ciclovias – não foram suficientes para empolgar o cidadão eleitor. O transporte coletivo praticamente não viu avanços – pelo contrário: houve a separação das redes municipal e metropolitana e, ainda que a desintegração não possa ser jogada sobre as costas do prefeito, nem todos os eleitores que dependem da rede metropolitana compreendem a intrincada política de subsídios e acordos.
Este calcanhar de Aquiles de Fruet foi o principal mote de campanha de Greca. O ex-prefeito apelou para suas realizações quando sucedeu Jaime Lerner no comando da capital e prometeu um retorno a essa época de “glamour” – uma época, é preciso dizer, anterior à Lei de Responsabilidade Fiscal e na qual mandatários não tinham tantas restrições no uso dos recursos públicos. O saudosismo cativou os eleitores desta vez, mas até que ponto será possível reproduzir uma “era de ouro” curitibana no cenário de crise atual é uma incógnita completa.
Que no segundo turno os candidatos mostrem não apenas o que pretendem fazer caso sejam eleitos, mas – e talvez principalmente – como pretendem fazer. Há tempo suficiente para esses esclarecimentos até 30 de outubro, quando os curitibanos voltam às urnas para o segundo turno. A alegada inatividade da administração atual, ainda que motivada pela responsabilidade orçamentária, não pode ser motivo para que o eleitorado se disponha a se deixar seduzir por promessas mirabolantes e irrealizáveis, venham de quem vier.