Até mesmo os governistas davam como certo que a presidente Dilma Rousseff seria afastada pelo Senado, em sessão histórica que se arrastou pela madrugada desta quinta-feira (posterior ao fechamento desta edição). A inevitável decisão interrompe um governo incompetente – e desonesto – que sistematicamente maquiou suas contas para ludibriar a população e, mais que isso, estabeleceu a corrupção como método para governar. Dado esse primeiro passo, agora é necessário que o presidente interino, Michel Temer, dê sinais claros a respeito de que caminhos o seu governo irá trilhar.
O primeiro teste vai acontecer no pronunciamento que deve fazer hoje em cadeia nacional de televisão. É certo que o discurso será de esperança a uma nação farta de zombarias e atentados às instituições, desejosa de um mínimo de estabilidade institucional e previsibilidade no ambiente econômico. Ainda não se sabe se já anunciará Henrique Meirelles para chefiar o Ministério da Fazenda, mas o quanto antes Temer o fizer, tanto melhor. O mesmo vale para as demais medidas urgentes para o saneamento da economia.
Para o bem de sua própria biografia, Temer deveria optar por uma ruptura com “tudo isso que está aí”
Nos bastidores se diz também que o presidente interino fará expressa menção elogiosa à Operação Lava Jato, com o objetivo de mostrar que não haverá ingerência política no combate à corrupção levado à cabo pela Força Tarefa do Ministério Público e da Polícia Federal. E a fim de afastar temores das classes menos favorecidas, deve também assegurar a continuidade de programas sociais, como o Bolsa Família, o Pronatec, o ProUni e o Minha Casa, Minha Vida.
Ocorre que é depois desse primeiro discurso que as verdadeiras batalhas começam. O peemedebista precisa resolver a tríplice crise que Dilma legou como herança, nos campos da política, da economia e da moralidade pública.
Desde já o presidente interino pode tirar uma sábia lição que o desenrolar dos fatos concedeu a Dilma Rousseff – as palavras que forem proferidas hoje terão de ser lastradas pelas ações de amanhã. A petista praticou estelionato eleitoral, escondeu dos brasileiros a grave crise que o país vivia, o resultado disso é conhecido.
Temer pode seguir o caminho do fisiologismo e manter o modus operandi petista – das negociatas de cargos, verbas e outras benesses – mas, para o bem do país e de sua própria biografia, deveria optar por uma ruptura com “tudo isso que está aí” e gastar sua energia em um projeto que unas as forças políticas do país. A informação veiculada na mídia, de que vai reduzir de 32 para 22 ministérios, parece ser um indício de que o peemedebista está consciente do melhor caminho a ser trilhado e de que tem conseguido, até o momento, conter a voracidade dos partidos por cargos.
Minimizar as pressões fisiológicas é extremamente importante neste momento, se Temer quiser ser bem-sucedido. Diferentemente de Itamar Franco, quando sucedeu a Fernando Collor de Mello, o presidente interino tem atrás de si um grande partido – o PMDB –, o que lhe dá a possibilidade de sustentar uma posição mais firme, apesar das pressões de sempre.
Pela experiência que tem no jogo com o Congresso – afinal, foi por três vezes presidente da Câmara –, sabe também que os parlamentares são suscetíveis à opinião pública. E tudo o que a sociedade mais teme neste momento é que o partido do presidente interino partilhe o governo com seus aliados como se fosse um espólio de guerra. Intolerante ao fisiologismo – que certamente lembraria as tratativas petistas em seu corrupto governo de coalizão –, a opinião pública anseia pelo ingresso de notáveis nos principais cargos da nação e a apresentação de um projeto consistente. Só, assim, será possível rapidamente implementar soluções que façam o país sair dessa crise de múltiplos aspectos em que foi colocado pelo Partido dos Trabalhadores.
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