Muitas reportagens têm lembrado a coincidência de tantos aniversários de 50 anos. Em 1962 saiu o primeiro filme de James Bond e o primeiro compacto dos Beatles. No mesmo outubro, o subcomandante russo Vasili Arkhipov evitou a Terceira Guerra Mundial, mesmo colocando sua própria vida em risco.
Mais importante para o ambiente foi o lançamento de Primavera Silenciosa, de Rachel Carson, em outubro de 1962.
Este é um livro que não suporta escrutínio detalhado. Muitas de suas previsões também não ocorreram. Desde seu lançamento, a indústria química não teve dificuldades em encontrar pontos falhos e, como era previsível, atirou sem dó, algumas vezes até errando. Em uma destas vezes, o livro foi acusado de mortes por malária que o DDT poderia ter evitado. Bobagem. Esse inseticida nunca foi banido para esse uso e até a autora aceitava seu uso para controle do inseto vetor.
Por muitos anos, acreditei que os pontos fracos do livro eram tantos que ele seria um desserviço para a causa ambiental, mas mudei de ideia ao perceber o tanto que foi feito por causa dele.
Logo após seu lançamento, o então presidente dos EUA pediu a seu Comitê de Aconselhamento Científico (se alguma presidente gostar da ideia, esta coluna não terá sido em vão) que investigasse o problema. Contrariando o Ministério da Agricultura e grande parte da indústria química, o governo norte-americano baniu o DDT. Devemos a Carson a precaução de desconfiar de produtos sintéticos e a existência de órgãos governamentais para o ambiente, como o IAP, a EPA e a Cetesb.
Carson errou nos detalhes, mas acertou maravilhosamente nas grandes questões. Sua demonstração de que grandes conglomerados promovem intencionalmente campanhas de desinformação antecedeu a discussão sobre os malefícios do fumo e das alterações climáticas. Neste próximo dia 6, a Califórnia votará a identificação de transgênicos, mais um fruto tardio de Primavera Silenciosa.
A história de Carson mostra uma mulher capaz de fazer diferença também em sua família. Seu pai morreu em meio a seu doutorado e ela sustentou mãe e duas sobrinhas após a morte de sua irmã mais velha. Ela veio a falecer dois anos depois da edição de Primavera Silenciosa, e nunca divulgou sua luta contra o câncer, com receio de que considerassem seu argumento como algo pessoal.
Mais que um livro sobre pesticidas, Primavera Silenciosa é um questionamento sobre o efeito humano no mundo natural.
Ainda temos alguns meses em 2012 para fazer algo que nossos filhos lembrem daqui a 50 anos.
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