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Os meios de comunicação esmiuçaram à exaustão a reeleição de Barack Obama. A bela cena do abraço do casal Obama foi a mais difundida nas redes sociais. A hiperexposição do tema resulta em algum cansaço. Ainda assim, me parece que o vigor da democracia americana nunca é suficientemente festejado e para nós, do gigante invertebrado do S ul, sempre há algo a aprender, ainda que seja sobre atitudes a evitar – a exemplo de Guantánamo, nódoa de tamanho minúsculo, mas que atrai o olhar pela desonra que causa aos valores que dão vivacidade à sociedade norte-americana.

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O resultado foi mais folgado do que indicavam as pesquisas e menos do que o vitorioso desejava. De qualquer modo, não há nenhuma sombra da luz que vem das urnas, a exemplo da primeira eleição de Bush Jr. em 2000, quando a eleição foi decidida, quase no par ou ímpar, pelo Poder Judiciário. Obama e seu partido, os Democratas, venceram a eleição nacional. É verdade que a Câmara dos Representantes permanece com maioria oposicionista, mas o Senado tem maioria situacionista. O jogo político norte-americano está absolutamente normal e o reeleito tem todas as chances para confirmar a ideia de que "o melhor ainda está por vir".

Em 2008 Obama simbolizava o último degrau da longa escadaria trilhada pela luta iniciada em 1783 no Parlamento do Reino Unido contra a escravidão e seu resíduo, a discriminação dos descendentes dos escravos. Culto, bonito, carismático, bem casado, é um híbrido dos irmãos John e Robert Kennedy, adicionada uma pitada de Bill Clinton. Seria eleito presidente do Brasil, do Quênia, da África do Sul, da Venezuela, do México, do Egito, da Índia. Tornou-se mais amado que músicos e atores de cinema. Mas os dias foram passando, a novidade se tornou rotina e as dificuldades comuns a qualquer governo foram embaçando o brilho popstar. Sim, é o primeiro presidente dos Estados Unidos não sardento, mas que importância isso tem para quem está desempregado e sem plano de saúde?

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Os destroços do naufrágio econômico provocado pelo (des)governo Bush quase levaram Obama a pique. A reeleição é valiosa, pois permitirá legado de normalidade governamental de alguém que poderia, diante das circunstâncias, passar para a história como um acidente político, evento ocasional relacionado ao simbolismo da superação da discriminação racial. Obama está provando que não é a quantidade de melanina na pele que o conduziu ao sucesso circunstancial. Ele governa bem o suficiente para obter, em meio a muito desemprego, a confiança de expressiva parcela dos eleitores.

O fenômeno Obama foi tão intenso que ofuscou a eleição de uma mulher divorciada para a Presidência do Brasil. Marco de consolidação das céleres mutações de uma sociedade rural patriarcal até meados do século 20 e, hoje, urbana e sem discriminações relevantes em razão de gênero ou estado civil. Sim, é o primeiro presidente de saias; mas qual a relevância da indumentária do presidente quando a economia atola nas limitações da infraestrutura física e jurídica do país?