Executivos que fecharam acordos na “megadelação” da Odebrecht afirmam que campanhas da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) tiveram dinheiro doado pela empreiteira. Os recursos, segundo os delatores, foram repassados via caixa 2 e haviam sido pedidos pelo marido de Gleisi, o então ministro Paulo Bernardo. Os executivos relataram que pelo menos três campanhas dela (2008, 2010 e 2014) tiveram dinheiro da empresa, mas que a última recebeu ao menos R$ 2 milhões, sendo que havia autorização para o repasse de mais R$ 5 milhões.
O ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, disse que os recursos doados irregularmente para a campanha de Gleisi saíram da “conta” de Antonio Palocci, identificado no sistema de propinas da empresa como “Italiano”. Os recursos teriam sido pedidos diretamente por Paulo Bernardo, que teria a anuência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. (assista ao depoimento de Marcelo Odebrecht )
“Fora esse assunto da Gleisi, ele [Paulo Bernardo] nunca tratou comigo da conta de Italiano”, disse Odebrecht. “Paulo Bernardo veio indicado por Lula para tratar desse assunto”, completou.
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Leia a matéria completa“Coxa”
Segundo o ex-executivo da Odebrecht, Benedicto Barbosa da Silva Junior, a senadora era identificada no sistema de propinas da empresa pelo codinome “Coxa”, em alusão ao Coritiba - embora a senadora seja torcedora declarada do Atlético Paranaense. Ele aponta que foram autorizados repasses de R$ 5 milhões à campanha de Gleisi, dos quais ao menos R$ 2 milhões chegaram a ela, por meio de caixa 2.
“Foram encontrados R$ 2 milhões em pagamentos no sistema [de propinas da Odebrecht], mas foram autorizados R$ 5 milhões. R$ 2 milhões que foram encontrados”, destaca o executivo.
O delator apontou que os pagamentos foram feitos em parcelas de R$ 500 mil, destinadas à senadora já no fim da campanha eleitoral de 2014, entre outubro e novembro daquele ano. “Pelos comprovantes que eu encontrei, tem pagamentos posteriores à eleição. Tem pagamentos de novembro de 2014, ou seja, significa que não conseguimos programar o pagamento e foram feitos posteriores à eleição”, disse Silva Junior.
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A conta do Italiano
Segundo Marcelo Odebrecht, esses recursos destinados à campanha de Gleisi ao governo do Paraná saíram de uma “conta” que Palocci tinha com a empresa. Essa “conta” se referia a uma espécie de crédito em propina que ele tinha no valor de R$ 200 milhões, por ter favorecido a Odebrecht em um contrato de R$ 1 bilhão – uma linha de crédito de exportação de bens e serviços à Angola.
Outras campanhas
Outro delator, o executivo Valter Luiz Lana, apontou que outras campanhas de Gleisi também receberam recursos de caixa 2. Segundo ele, a paranaense recebeu uma doação ilegal no valor de R$ 150 mil, em 2008, quando disputou a prefeitura de Curitiba. Em sua campanha ao Senado, em 2010, Gleisi teria recebido duas parcelas de R$ 300 mil. Essas operações também teriam sido intermediadas por Paulo Bernardo, segundo o delator. Nestes dois pleitos, o codinome de Gleisi nas planilhas da empreiteira era “Amante”.
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Outro lado
Por meio de sua assessoria de imprensa, a senadora Gleisi Hoffmann disse que “não tem informações sobre isso [o teor das delações], desconhecendo a que se refere” e acrescenta que se pronunciará “quando tiver informações oficiais a respeito”. A paranaense destaca que as doações a suas campanhas eleitorais contam das prestações de contas aprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
A advogada de Paulo Bernardo disse que ele nega qualquer envolvimento nos fatos denuncias e que confia na Justiça para que a verdade seja esclarecida.
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